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Retrospectiva Folha Vitória: relembre o período de maior crise na segurança pública do Espírito Santo

Foram, ao todo, 21 dias sem policiamento nas ruas. Nesse período, foram registrados 189 homicídios, de acordo com dados do Sindicato da Polícia Civil

O movimento, que bloqueava as saídas de batalhões da PM em todo o Estado, foi iniciado por mulheres e familiares de policiais | Foto: Agência Brasil

No dia 4 de fevereiro de 2017, o Espírito Santo via o início da maior crise de segurança pública de sua história. Em busca de reajuste salarial, pagamento de auxílio alimentação, periculosidade, insalubridade, adicional noturno e a valorização de policiais militares do Estado, mulheres e familiares bloquearam a saída de viaturas e de policiais dos batalhões da Polícia Militar (PM) em todo o Estado.

Sem policiamento nas ruas, crimes foram registrados ainda pela manhã do dia 4. Contudo, o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia, se posicionou dizendo que não houve nada que pudesse causar preocupação para a sociedade e que a secretaria estava tomando as devidas providências para resolver o impasse. "Nós não temos aumento de ocorrências em função desse quadro... De ontem para hoje, no Estado inteiro, tivemos apenas um registro de homicídio".

O ES contou com o patrulhamento de 1.850 homens das Forças Armadas e da Força Nacional | Foto: Agência Brasil

A madrugada e o decorrer do dia seguinte foram marcados por crimes no Estado. Nas unidades da PM se via a mesma cena: cones impedindo as saídas dos veículos oficiais e mulheres de militares acampadas em frente às unidades, com tendas, cadeiras de praia e cartazes contendo reivindicações. Sem a polícia, o comércio foi alvo de bandidos. Lojas de eletrodomésticos foram arrombadas, tentativas de homicídio registradas, trailer da polícia incendiadoarrombamento de veículos.

De acordo com a Federação do Comércio e Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES), até o dia 8 de fevereiro o comércio já acumulava prejuízo de aproximadamente R$ 90 milhões em todo o Estado.

O medo tomou conta da população que buscava segurança dentro de casa. Atendimentos em repartições públicas foram suspensos, escolas fecharam as portas... Sem a polícia, o comércio foi alvo de bandidos, que saquearam e destruíram as lojas em diversos municípios do Estado. Somente nos três primeiros dias de paralisação, a Polícia Civil contabilizou 66 mortes no Espírito Santo.

Na tentativa de reverter o cenário de paralisação dos policiais, o Comando Geral da Polícia Militar foi trocado pela Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social. Sem sucesso e diante do caos e com a violência fora de controle, o Governo do Estado teve que pedir ajuda às Forças Armadas para restabelecer a segurança da população. O Espírito Santo contou com o patrulhamento de 1.850 homens das Forças Armadas e da Força Nacional.

Um protesto em frente ao Quartel da PM em Vitória terminou em confusão | Foto: Agência Brasil

Licenciado para um tratamento médico em São Paulo, o governador Paulo Hartung classificou a paralisação como chantagem. Revoltada com o movimento dos policiais militares, a população organizou um protesto que ocorreu na porta do Quartel do Comando Geral (QCG), localizado em Maruípe, em Vitória. Houve confusão entre pessoas favoráveis e contra a paralisação.

Veja o vídeo abaixo:

Após o fracasso nas negociações com policiais militares, o governo capixaba decidiu endurecer com os PMs e com as mulheres líderes do movimento. No total, 703 policiais militares foram indiciados por crime de revolta, que é o aquartelamento realizado por PMs armados. A lista com os nomes dos militares foi publicada no Diário Oficial do Estado

Depois de três semanas, o povo capixaba assistia aos últimos dias de angústia e medo. Policiais do Batalhão de Missões Especiais driblaram os manifestantes que bloqueavam as saídas do QCG e retiraram as viaturas. Confira abaixo:

Em uma reunião que durou mais de nove horas, os familiares dos policiais militares chegaram a um acordo junto ao Governo do Espírito Santo no dia 25 de fevereiro. O pedido foi aceito com a condição dos processos administrativos e ações judiciais serem suspensos. Os familiares deram início à liberação das portas dos batalhões que ainda estavam bloqueados.

Durante os 21 dias sem policiamento nas ruas, foram registrados 189 homicídios durante um movimento marcado pela intransigência e pela queda de braço entre Governo e policiais, em que o mais prejudicado foi o povo capixaba. Militares foram expulsos, outros presos e familiares que lideraram o movimento ainda respondem na Justiça pela greve.

Após a greve, o governador Paulo Hartung assinou um decreto para reestruturação da Polícia Militar. Entre as medidas estão a criação de companhias independentes e outros dois novos Comandos de Policiamento Ostensivo. As medidas foram divulgadas pelo secretário de segurança André Garcia. Veja a imagem abaixo:


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