Polícia

Veja a íntegra da carta que médica registrou sobre ameaças de marido

Ela foi assassinada ao sair de um plantão no Hospital das Clínicas

Uma carta, que foi registrada em cartório pela médica Milena Gotardi Tonini Frasson, de 38 anos, foi obtida pela Rede Vitória. No documento ela contou sobre as ameaças que sofria do ex-marido, Hilário Frasson.

Milena foi baleada na cabeça no momento em que saía de um plantão no Hospital das Clínicas (Hucam), em Maruípe, Vitória. Ela estava com uma outra médica quando foi abordada pelo criminoso, que fugiu logo após efetuar os disparos.

A médica chegou a ser socorrida e foi internada no Centro Integrado de Atenção à Saúde (Cias), da Unimed, mas morreu no final da tarde da última sexta-feira (15). O enterro aconteceu no dia seguinte, em Fundão, município em que a médica nasceu e cresceu e onde ainda mora parte de sua família.

Leia a carta de Milena na íntegra:

"Vitória, 05 de abril de 2017

Meu nome é Milena Gottardi Tonini Frasson, sou mãe de (....), 9 anos, e (....) 1 ano e 10 meses. Sou casada com Hilário Antônio Fiorot Frasson, mas estamos em processo de separação.

Temos um relacionamento de 20 anos (7 anos de namoro e 13 de casamento).

Por várias vezes ele demonstrou um temperamento difícil com mudanças de humor frequentes durante o dia. Reage com agressividade em algumas situações, porém sem agressão física. A agressividade é feita através de palavras. Tem manias como de limpeza excessiva que ao meu ver é muito sugestivo de transtorno obsessivo compulsivo (...) e na personalidade sempre me preocupou (...) me oprimiu porque nunca sabia como ele reagiria a situações do cotidiano. Orientei por diversas vezes a procurar tratamento psiquiátrico, mas ele nunca levou a sério. Ia ao psiquiatra, mas não seguia ao tratamento proposto.

A situação ficou muito mais grave a partir do momento em que o alcoolismo começou a se tornar algo real nas nossas vidas. Ele era um etilista social (embora mesmo nos finais de semana sempre abusava da quantidade de álcool). O hábito se tornou diário.

Em relação às meninas, sempre foi um bom cuidador, porém, principalmente com (...) *nome de uma das filhas, usava (...) palavras opressivas e de castigos físicos (...).

A nossa relação sempre foi de posse. Ele sempre demonstrou muita obsessão a minha pessoa, mesmo antes do namoro.

Diante de todos esses fatos, hoje sairei de casa com minhas filhas por determinação policial, uma vez que estou desde o dia 05/03/17 tentando convencê-lo a sair de casa e/ou aceitar pacificamente a separação. No entanto não obtive êxito nas inúmeras tentativas.

As conversas ele sempre partia para o lado das ameaças. Falava que não sairia de casa, nem deixaria as meninas, que se eu me separasse ele declararia guerra que se mataria (falou na pessoa de (....) *nome de uma das filhas, dentre outras falas.

Me sinto uma refém dentro da minha própria casa. Está insuportável! Não quero brigar com ele, mas também não consigo ter uma conversa, um diálogo. Ele não permite isso.

Temo pelas crianças. A (....) *nome de uma das filhas está em acompanhamento com a psicóloga (...NOME). A qual orientou que as poupemos de qualquer divergência entre casal, mas ele grita e fala coisas terríveis perto dela. Não aguento essa situação, por isso pedi ao juiz a liberação para sair de casa com as meninas para me poupar e, principalmente, (...) de um ambiente hostil.

No entanto, não sei qual será a reação dele. Tenho medo que essa agressividade verbal se concretize em atitudes. Temo em ele tirar sua própria vida e como vemos em muitos casos tirar a minha vida também. Poderia ir na delegacia e relatar meus temores, mas não quero prejudicá-lo. Desejo muito que a situação seja resolvida pacificamente.

Embora, desejo e rezo pela paz eu tenho duas crianças que dependem de mim que são (...) *nome das duas filhas, dependem do meu amor, do meu carinho, dos meus ensinamentos e financeiramente.

Por isso, venho através desta carta expor a minha vontade que se acontecer algo de ruim comigo, por exemplo, se Hilário Antônio Fiorot Frasson me matar e pode ser que tente se matar também, eu desejo que as minhas filhas (...) *nome das duas filhas fiquem sob guarda do meu irmão Douglas Gottardi Tonini com a supervisão da minha mãe Zilca Maria Gottardi Tonini porque assim ficarei em paz. Sei que eles tem plena condições de seguir com os ensinamentos e afeto para com as minhas filhas da forma que eu mesma faria. Bem como de utilizar todos os benefícios financeiros a favor da educação das minhas filhas.

Expresso essa vontade em vida e na forma dessa carta para que se acontecer algo comigo, que as autoridades responsáveis possam se sensibilizar com o desejo de uma mãe que estava em busca somente de paz.

A separação será para mim a busca de paz e com isso uma casa harmoniosa para criar minhas filhas.

(...) *nome das duas filhas tenham certeza que vocês são o bem maior que tenho. O meu amor por vocês é infinito. Um dia vocês saberão que a mamãe tentou de todas as formas manter o casamento, mas não deu.

E a separação foi a forma que eu encontrei de buscar a nossa paz e a nossa felicidade. Eu sempre estarei com vocês para protegê-las e amá-las.

Milena Gottardi Tonini Frasson".

Veja as imagens da carta:


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