Polícia

Juras de morte a líder comunitário são pichadas após PM matar jovem

Após ter conhecimento das pichações, o líder comunitário conhecido como Xuxa teria saído da região com a família. Segundo moradores, ele fazia trabalhos comunitários em um projeto social local

Quatro dias depois de Mateus Ribeiro da Costa, de 16 anos, ser morto por policiais militares no Morro da Sé, favela à beira da avenida Cangaíba (zona leste), ameaças a um líder comunitário foram pichadas na região.

Na versão da polícia, Mateus foi morto em um confronto ocorrido na terça-feira da semana passada (10). Parentes e amigos da vítima, porém, afirmam que ele estava desarmado e foi executado.

As pichações, que surgiram no sábado (14), são atribuídas por moradores da favela a policiais militares.

A reportagem do R7 esteve no local e constatou, em ao menos quatro pontos da comunidade, inscrições como "Vai morrer Xuxa", "Vai morrer líder comunitário", “Líder da favela vai morrer” e “Motoqueiro fantasma”.

Após ter conhecimento das pichações, o líder comunitário conhecido como Xuxa teria saído da região com a família. Segundo moradores, ele fazia trabalhos comunitários em um projeto social local.

"A população tem medo", disse um morador ouvido pela reportagem. Ele e outros habitantes da região relataram que, além das ameaças, a comunidade tem sofrido abusos, sobretudo após realizarem um pequeno protesto pela morte do jovem.

Uma das pessoas ovidas pela reportagem afirmou que um policial chegou a mostrar foto da manifestação, com o rosto dos participantes.

Na segunda-feira (16), mães que esperavam os filhos chegarem da escola na entrada da comunidade também teriam sofrido uma abordagem agressiva. Um dos PMs teria lançado spray de pimenta contra elas. Uma mulher teria tido o filho pequeno ameaçado.

Cena alterada

O local apontado pelos policiais militares como sendo o que Mateus foi morto também é contestado.

Segundo moradores, ele foi morto dentro da comunidade, em uma rua sem saída atrás de uma casa. Depois, policiais teriam jogado o corpo do jovem em um terreno com lixo acumulado na entrada da comunidade com o auxílio de uma tábua de madeira e uma escada.

A reportagem teve acesso a fotos do corpo de Mateus que mostram o adolescente caído, em posições diferentes, sob os dois pisos distintos.

O caso

Na versão da polícia, o jovem estava cometendo um roubo no local e teria resistido à prisão.

Moradores que afirmam terem visto a abordagem têm outra versão. Segundo eles, Mateus teria ido até a padaria próxima à entrada da favela para comprar pão quando foi abordado.

“Ninguém sabe de assalto nenhum aqui”, afirmou um morador. “O menino estava descendo com o pão de boa”, disse outro. “Quando o moleque viu que era ele [um policial que o teria ameaçado antes], correu. Ele foi atrás do menino”.

Secretaria não se manifesta

O R7 questionou a Secretaria de Estado da Segurança a respeito das ameaças. A pasta, no entanto, não se manifestou até o fechamento desta reportagem.

Na semana passada, a pasta havia afirmado que "o caso foi registrado pelo DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) como resistência e morte decorrente de oposição à intervenção policial e será investigado pela unidade".

"A Polícia Militar, por meio do 51°BPM/M, responsável pelo policiamento na região, acompanha as investigações, como de praxe em ocorrências desse tipo", afirmava o texto.

*Ana Beatriz Azevedo é estagiária do R7.

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