Economia

Não há confiança de que 2019 será melhor, diz presidente da Fiesp

Redação Folha Vitória

À frente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) desde o dia 5 de junho, após a saída de Paulo Skaf para concorrer ao governo do Estado de São Paulo, José Ricardo Roriz Coelho está com uma agenda intensa. Nesta semana, se reuniu com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, e com o presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, para discutir os impactos da recente turbulência provocada pela greve dos caminhoneiros. Segundo ele, a paralisação, somada a outros fatores, adicionou incertezas a um cenário que já não era dos melhores.

A agenda da Fiesp mudou com a greve dos caminhoneiros?

O Brasil vem de uma crise longa. A greve dos caminhoneiros surge em um momento em que se acreditava que o País começaria a se recuperar. A greve traz uma série de novos problemas para empresas que já vinham com dificuldades. A capacidade ociosa de boa parte das empresas beira 30%, a maioria opera com margens baixas e dificuldade de crédito.

As eleições indefinidas embaralham este cenário?

A combinação de todos esses fatores cria uma série de dúvidas com as eleições indefinidas. As propostas que têm sido colocadas não convencem, não trazem a confiança necessária para dizer que em 2019 estaremos numa situação melhor que a de agora.

A Fiesp tem proposta concreta para os presidenciáveis?

A Fiesp é uma grande geradora de propostas. O nosso maior objetivo é o Brasil voltar a crescer, gerar emprego, aumentar renda para estimular o consumo. Vamos conversar com todos os presidenciáveis.

E qual é a pauta da Fiesp?

Nossa pauta é crescimento. Nosso candidato é aquele que vai fazer o Brasil crescer, independentemente de quem esteja à frente das pesquisas.

E como se faz o Brasil crescer nas condições que temos hoje?

A Selic (taxa básica de juros) caiu, mas o ‘spread’ bancário (diferença entre os que os bancos pagam para captar recursos e o que eles cobram para conceder empréstimo) continua alto. Há ainda insegurança jurídica, que deprecia o valor das empresas no Brasil. Não temos um cenário de médio e longo prazos que traz certezas. Com uma canetada, acaba. Foi o caso do Reintegra, que afetou as exportadoras. Temos monopólio de refino de petróleo e uma concorrência brutal de caminhoneiros. No monopólio, o preço é livre. Onde tem concorrência, o preço é tabelado. Tem de mudar.

Isso tudo foi conversado com Guardia e Caffarelli?

Gostaríamos que nossa agenda com eles fosse mais estruturante. Mas somos atropelados pelo curto prazo. Não tem como receber o ministro e não falar da greve dos caminhoneiros, do tabelamento do frete. Mesma coisa com o Banco do Brasil. O banco é um financiador das exportadoras. Você acaba sendo atropelado com o problema das empresas que foram afetadas pela greve.

Mas o cenário externo também afetou o câmbio...

Os problemas externos vão ocorrer sempre. Para isso, temos de estar preparados para enfrentá-los. Ter a casa arrumada para enfrentar momentos mais difíceis. As reformas da Previdência e tributárias já deveriam ter sido aprovadas. Há um peso enorme da burocracia e ineficiência do governo. Hoje, 40% do PIB é setor público e 60% setor privado. O setor público trabalha com modelo de gestão de 30 anos atrás.

O pato vai voltar para a rua?

É difícil falar de tributos para a população. Nos EUA, os impostos são discriminados. É difícil também falar de spread bancário. O setor financeiro e a ineficiência do governo se apropriam de boa parte do rendimento da sociedade. O pato e o sapo foram as formas de a Fiesp falar sobre o assunto.

Faltou habilidade do governo na condução da greve?

Foi uma faísca que pegou fogo e o governo teve dificuldade de apagar. O País parou totalmente. É difícil julgar agora se foi errado. No calor da greve, tomar uma decisão é complicado. Mas tem de consertar os erros cometidos. E um deles foi o tabelamento de fretes.

O BNDES deveria ser mais atuante neste momento?

O BNDES tem um dos melhores corpos técnicos do governo. Se houve escolhas de investimentos não adequadas (campeãs nacionais), tem de corrigir. O que não poderia ter feito é tirar o BNDES do jogo neste momento de crise. Foi um erro muito grande deste governo. A justificativa foi reduzir a participação do BNDES para os bancos privados serem mais ativos. Não aconteceu...

O sr. tem pretensões políticas como Skaf e Benjamin Steinbruch (ambos licenciados da Fiesp)?

As pretensões políticas são legítimas de cada um, mas não tenho. Quero cumprir bem meu papel. Não nasci presidente da Fiesp e não morrerei no cargo.

Os empresários estão sendo mais vocais?

Aparentemente, sim. Hoje, muitos deles estão se apresentando como políticos. O Brasil precisa de gestão. Mas não basta ser bom empresário para se dar bem na política. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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