Economia

Arminio Fraga: déficit fiscal poderá ser maior (do que se prevê), de 12% do PIB

O encurtamento nos prazos dos títulos, disse Fraga, não é a solução definitiva, mas dá ao Brasil tempo para retomar a agenda de reformas fiscais

Estadão Conteúdo

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação/PSDB

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga disse nesta terça-feira, 2, que, em razão do prolongamento da crise do coronavírus por um período maior do que se imaginava quando o vírus estava circunscrito à China, o déficit primário das contas públicas brasileiras deve chegar a 12% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

"Estritamente do ponto de vista fiscal, estamos trabalhando com uma margem de manobra muito apertada. Tenho comentado que a consequência disso vai ser um crescimento imenso das necessidades de financiamento do governo", comentou Fraga ao participar de uma live promovida pelo BTG Pactual.

"Já vimos esse filme antes, mas agora estamos vendo a cores e no telão, e maior. Em 2002, nós estávamos juntos, foi duro", acrescentou Fraga, lembrando-se da crise financeira enfrentada em seu último ano à frente do BC. "Os números mostram déficit primário de dois dígitos neste ano. Uma estimativa, por baixo, sugere 10%, com a queda de receita bastante relevante. Acho provável um déficit maior, vamos dizer de 12% do PIB. Não é pouco."

Ele apontou o encurtamento de prazos nas emissões de títulos públicos como uma saída para baratear o custo da dívida, apesar do custo de risco, dado o aumento do tamanho das rolagens da dívida.

O encurtamento nos prazos dos títulos, disse Fraga, não é a solução definitiva, mas dá ao Brasil tempo para retomar a agenda de reformas fiscais.

"É bom ganhar tempo com o encurtamento, mas ganhar tempo para quê? Se for para tomar providências, continuar com a agenda de reformas, fortalecer as bases fiscais do Estado brasileiro, ótimo. Se for só para ganhar tempo, aí, em geral, o problema só cresce e piora lá na frente."

Durante o evento do BTG, Armínio Fraga disse não ver a necessidade de o Brasil adotar uma estratégia de injeção monetária nos moldes do quantitative easing (afrouxamento quantitativo) americano. Isso porque a taxa Selic, embora tenha caído muito, não está em zero como nos Estados Unidos.

"Vejo isso mais como uma ferramenta para reais emergências em momentos de o mercado perder liquidez", afirmou o ex-presidente do BC, que também observou que o Banco Central tem ferramentas para complementar o trabalho do Tesouro Nacional.

Em sua participação na mesma live, o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan destacou que o BC, em suas últimas comunicações, indicou mais um corte da taxa básica de juros, de até 0,75 ponto porcentual.

Ele avaliou que a autoridade monetária tem agido com cautela ao não se comprometer com os seus próximos passos. "Se você ler nas entrelinhas das atas do Copom, sempre tem ali a preocupação com ritmo de encaminhamento das reformas. Acho que a cautela é razoável", comentou Malan.

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