Economia

Além da lei: o desafio de incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho

O que as empresas devem fazer para realizar não só a contratação, mas também o desenvolvimento das pessoas com deficiência nas organizações

Naira Scardua

Redação Folha Vitória

Quem costuma procurar uma oportunidade no Serviço Nacional de Empregos (Sine) ou nas empresas de recrutamento sabe que boa parte das vagas é destinada a pessoas com alguma deficiência (visual, auditiva, mental, física ou múltipla), o grupo PcD.

A verdade é que muitas empresas procuram essas pessoas para cumprir a lei, que obriga a contratação de 2 a 5% de pessoas com deficiência caso haja mais de 100 colaboradores. 

Quanto maior o quadro de funcionários, maior o de profissionais com deficiência que devem ser contratados

Foto: Reprodução

A lei de Cotas para PcDs completa 30 anos em 2021, e é responsável por aumentar a participação desses grupos no mercado de trabalho mas isso ainda é pouco representativo em relação ao total de empregos no Brasil. São 486.756 pessoas com deficiência trabalhando formalmente, o que significa menos de 1% dos empregados.

As empresas que não cumprem a contratação devida podem pagar multa inicial de R$ 2.411,28. Em alguns casos as multas são milionárias.

Inclusão menor

A pauta Diversidade e Inclusão tem ganhado cada vez mais relevância no mundo e também no Brasil. Grandes empresas já perceberam que precisam incluir pessoas diversas no quadro de funcionários. A "bola da vez" é contratar pessoas de grupos minorizados, como mulheres, negros, o grupo LGBTQIA+, etc.

No entanto no caso das pessoas com deficiência, no geral, o avanço foi pequeno nos últimos anos. É o que a afirma a diretora de diversidade da ABRH, Cyntia Molina:

Foto: Divulgação

"As pessoas com deficiência física ou mental entram nas empresas em funções que chamamos de cargo de entrada e ficam ali o resto da vida. É preciso haver uma política para que esses grupos tenham um crescimento profissional dentro da organização. É necessário qualificar essas pessoas. Nesse sentido, o avanço é pequeno no Brasil."

No Brasil, 24% da população tem alguma deficiência, de acordo com o último Censo do IBGE, feito em 2010, o que evidencia a importância de ter essa população no mercado de trabalho. O que fica claro é que muitos permanecem na base a hierarquia da organização, mesmo que tenham bagagem acadêmica. Isso mostra o quanto ainda precisa ser feito.

Doutor em administração de empresas e especialista em cultura organizacional brasileira, Bruno Félix, explica que as empresas precisam compreender as necessidades das pessoas com deficiência e fazer com que as habilidade sejam aproveitadas na organização: "É um caminho que precisa ser aprimorado pelas empresas, para que possam não só inserir mas também criar um ambiente de maior inclusão para que as pessoas se sintam incluídas dentro de uma sociedade mais justa e equitativa". 

Veja no vídeo como deve ser a inclusão nas empresas:

Mais espaço e crescimento

As empresas que já compreendem a importância de não só contratar mas também promover o desenvolvimento das pessoas com deficiência, conseguem perceber resultados na prática. Equipes mais diversas, criativas, empenhadas, além de receber o olhar positivo da sociedade.

A Suzano, maior fabricante global de eucalipto para celulose, que tem fábrica em Aracruz, norte do Espírito Santo, tem 380 colaboradores com deficiência nos mais diversos cargos, inclusive de liderança. E a meta é aumentar essa representatividade, garantir 100% de acessibilidade e um ambiente 100% inclusivo para pessoas com deficiência.

Para atingir o objetivo conta com um programa específico de inclusão PcD em todas as unidades da empresa, o Plural. 

Foto: Divulgação

O supervisor de manutenção, Francisco Auer Brandão, de 36 anos, é um dos colaboradores do grupo PcD da empresa. Ele possui má formação óssea em um dos dedos da mão e conta que foi bem acolhido no ambiente de trabalho e não sentiu nenhum tipo de preconceito. 

" Quero continuar contribuindo com entregas sustentáveis, focado nos direcionadores da nossa empresa e preparando para assumir novos desafios dentro da Suzano", afirma.


Capacitação

De nada adianta o funcionário com deficiência ser contratado e passar a vida toda no mesmo cargo, sem a chance de ter um crescimento profissional. No caso da Suzano, existe um trabalho de capacitação, é o programa Somar PcD que não só capta talentos como também prepara as pessoas para um avanço na carreira, como explica a líder de Diversidade na Suzano, Julia Targa:

"Essa iniciativa é direcionada para formação específica de pessoas com deficiência para atuação em nossas operações industriais. Nosso projeto piloto aconteceu na Fábrica de Aracruz (ES), em parceria com o SENAI, formando 14 auxiliares de produção e 9 auxiliares administrativos. Expandimos o projeto e hoje temos três turmas em andamento nas unidades de Imperatriz (MA), Mucuri (BA) e Três Lagoas (MS)".
Foto: divulgação/ Suzano
Capacitação na Suzano em Mato Grosso do Sul

Conscientização

Para que a inclusão de pessoas com deficiência seja eficiente na empresa é preciso fazer um trabalho de acolhimento e conscientização em todos os setores.

A pesquisa “Expectativas e Percepções sobre o Mercado de Trabalho para Pessoas com Deficiência 2017”, realizada pela i.Social em parceria com a Catho (site de classificados de empregos do Brasil), a ABRH Brasil e a ABRH-SP, reuniu opiniões de três importantes públicos a respeito do assunto: o pessoal da área de recursos humanos (RH) de empresas, alta liderança e pessoas com deficiência.

Foto: divulgação/ Asid

- 30% dos líderes disseram que nunca ouviram falar ou sabem pouco sobre a Lei de Cotas e a Lei Brasileira de Inclusão.

- 88% disseram que a contratação de PcD é feita principalmente apenas para o cumprimento da lei.

A pesquisa mostra que, quando a inclusão acontece somente para bater a cota, sem que a empresa tenha uma cultura organizacional inclusiva, as pessoas com deficiência podem não ter o rendimento esperado.

































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