Economia

BC: dinâmica de alimentos é importante componente para redução de inflação

De acordo com o BC, isso respondeu por "parcela relevante da diferença entre as projeções de inflação para 2017 e a meta de 4,5% vigente este ano"

Brasília - O Banco Central afirmou nesta quinta-feira, 21, em boxe específico do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que "a dinâmica favorável dos preços de alimentos desde o quarto trimestre de 2016 constituiu importante componente do processo de redução da inflação e substancial surpresa desinflacionaria". De acordo com o BC, isso respondeu por "parcela relevante da diferença entre as projeções de inflação para 2017 e a meta de 4,5% vigente este ano".

Neste boxe, intitulado "Ciclos inflacionários e persistência", o BC buscou analisar o ciclo recente de inflação com base em estimativas de persistência, "que permitem comparar a velocidade de ajuste dos preços dos segmentos do IPCA após a incidência de choques".

É justamente o choque de alimentos que tem sido assunto recorrente do BC nas últimas semanas. Com as projeções de inflação próximas de 3% - o piso da meta de inflação para 2017 -, tem aumentado a percepção no mercado financeiro de que o intervalo da meta pode ser descumprido, com o IPCA ficando abaixo deste porcentual. Se isso acontecer, será a primeira vez na história do regime de metas que o descumprimento ocorre em função de um IPCA muito baixo - e não muito alto.

O BC tem defendido a ideia de que houve uma "surpresa" em relação à intensidade da queda da inflação de alimentos em 2017. No boxe, a instituição destaca que "a inflação de alimentos no domicílio, acumulada em 12 meses, atingiu 9,36% em dezembro de 2016 e -5,20% em agosto deste ano, representando mais de dois pontos percentuais de contribuição para a queda do IPCA no período".

"No trimestre encerrado em agosto, em particular, a evolução benigna dos preços de alimentos mais que compensou as elevações não antecipadas nos preços de monitorados", acrescentou a instituição. De acordo com o BC, porém, as projeções de inflação para 2018 indicam "alguma normalização" da inflação de alimentos e uma trajetória mais favorável para os preços administrados. "No curto prazo, persistem os riscos baixistas de possíveis efeitos secundários do contínuo choque favorável nos preços de alimentos sobre a inflação dos segmentos mais persistentes", diz o BC.

Variações negativas

O Banco Central concluiu em boxe publicado no Relatório Trimestral de Inflação que as variações mensais negativas do IPCA podem ocorrer no sistema de metas para a inflação, sem que isso se configure um processo de deflação. Segundo o BC, dada a dinâmica usual ao longo dos meses, a probabilidade de ocorrência de variações negativas para o IPCA torna-se maior em ambiente com a inflação em torno da meta.

No boxe, o BC mostra que o IPCA apresentou valores mensais historicamente baixos nos meses mais recentes, em linha com a desinflação observada desde o início de 2016. " Ainda que eventos como este sejam relativamente raros, eles se tornam mais frequentes em períodos de inflação baixa, sem que isso indique um fenômeno de deflação", avalia.

Preços administrados

O RTI traz ainda um boxe descrevendo a reformulação dos modelos para projeção de médio prazo dos preços administrados. A modelagem de cada item é descrita de forma resumida. Neste RTI, o BC também informou, pela primeira vez, suas projeções para os preços administrados 2019 e 2020.

Juros

O Banco Central mostrou em boxe incluído no Relatório Trimestral de Inflação que, atualmente, a taxa de juros real ex-ante situa-se em torno de 3%. Considerando a trajetória implícita na pesquisa Focus, a taxa real ex-ante chegaria a 2,7% no final do ano.

No boxe, o BC destaca o uso da taxa de juros estrutural na condução e análise da política monetária. O boxe também traz resultados de pesquisa conduzida em abril de 2017 com participantes da pesquisa Focus para conhecer suas estimativas da taxa de juros estrutural de curto prazo da economia brasileira.

Segundo o BC, a taxa de juros estrutural, também denominada taxa de juros neutra, é um ponto de referência para a condução da política monetária. Quando a taxa de juros real se encontra abaixo da taxa de juros estrutural, ela exerce um efeito estimulativo - impulsionando a atividade econômica e contribuindo para aumento da inflação. Por outro lado, quando a taxa de juros real se encontra acima da taxa estrutural, seu efeito é contracionista - contém a atividade econômica e contribui para a redução da inflação.

Pelos resultados da pesquisa feita pelo BC, a percepção dos participantes é a de que a taxa real de juros neutra no curto prazo está em torno de 5,0%. Apenas 4% das 82 instituições que responderam a essa questão indicaram uma taxa inferior a 4,0%. As instituições pesquisadas revelaram, ainda, confiança na queda da taxa de juros neutra ao longo do tempo.

A moda das respostas é de uma taxa real neutra de 4,0% a.a. dentro de dois e cinco anos. Respostas abaixo de 4,0% a.a. foram verificadas em 6% dos que responderam à pergunta referente a dois anos e em 39% dos que responderam questão para o prazo de cinco anos.

O BC destaca ainda que a taxa de juros neutra depende fundamentalmente de determinantes estruturais, como a taxa de crescimento do produto potencial, a taxa de crescimento populacional, preferências da população quanto a consumir mais hoje versus amanhã, perspectivas de longo prazo da política fiscal e eficiência do sistema financeiro. Segundo o BC, reformas e ajustes na economia afetam a taxa estrutural, que independe de fatores cíclicos, como movimentos do hiato do produto ou desvios da inflação em relação à meta.

O BC ressalta ainda no boxe do regime de metas para a inflação, a política monetária deve ser conduzida para manter a inflação na meta no horizonte relevante. Se a trajetória prospectiva da inflação indica níveis acima da meta no horizonte relevante para a política monetária, o BC afirma que deve conduzir sua política de juros e sua comunicação de modo que as taxas de juros reais ex-ante situem-se em terreno contracionista, ou seja acima da taxa neutra.

"O oposto vale se a trajetória prospectiva da inflação aponta para níveis abaixo da meta no horizonte relevante. Nesse caso, o Banco Central deve conduzir sua política de juros e comunicação de modo que a política monetária se torne estimulativa", ressalta. Segundo o BC, o quão acima ou abaixo da taxa neutra ele deve mirar nessas circunstâncias depende, dentre outros fatores, da efetividade da transmissão da política monetária, do hiato do produto, do balanço de riscos e, de forma geral, da velocidade almejada para convergência da inflação à meta.

Em longos períodos de tempo, afirma o BC, é de se esperar que, em uma economia com expectativas de inflação ancoradas, a inflação flutue ao redor da meta, alternando entre períodos com inflação acima da meta e períodos em que a inflação se situe abaixo da meta.

"Reagindo prospectivamente a essas oscilações, espera-se que o banco central induza taxas de juros reais que alternarão períodos acima da taxa neutra com períodos abaixo da taxa neutra. Reduções sustentáveis das taxas de juros reais praticadas numa economia dependem, portanto, de reduções na sua taxa de juros estrutural", diz o boxe.

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