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Câncer já é a principal causa de morte em três cidades do Espírito Santo

Segundo levantamento, nesses três municípios foram registradas 55 mortes, em 2015, cuja causa foi a doença

Rio Bananal é um dos municípios capixabas onde o câncer já é a principal causa de morte

O câncer já é a principal causa de morte em três municípios do Espírito Santo: Marilândia e Governador Lindenberg, no noroeste do Estado, e Rio Bananal, na região norte. A constatação é de um levantamento do Observatório de Oncologia do movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC), feito com base nos números oficiais mais recentes do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM).

De acordo com a pesquisa, nesses três municípios capixabas foram registradas 55 mortes, em 2015, cuja causa foi algum tipo de câncer. Desse total, 38 vítimas eram do sexo masculino e as outras 17, do feminino.

O levantamento aponta ainda que, dos 5.570 municípios brasileiros, 516 já apresentam o câncer como principal causa de morte. Ao todo, essas cidades concentram uma população total de 6,6 milhões de habitantes.

Os dados mostram que a maior parte das cidades onde o câncer já é a principal causa de morte está localizada em regiões mais desenvolvidas do país, justamente onde a expectativa de vida e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são maiores. Dos 516 municípios onde os tumores matam mais, 80% ficam no Sul (275) e Sudeste (140). No Nordeste, estão 9% dessas localidades (48); no Centro-Oeste, 34 (7%); e no Norte, 19 (4%).

O Rio Grande do Sul é o Estado com o maior número de municípios (140) onde o câncer é a primeira causa de morte. Enquanto em todo o país as mortes por câncer representam 16,6% do total, no território gaúcho esse índice chega a 33,6%. Um dos fatores que pode explicar a alta incidência de câncer na região são as características genéticas da população, que pode apresentar maior predisposição para desenvolver o câncer de pele (melanoma), por exemplo.

Do total de municípios onde o câncer se tornou a principal causa de morte, 11 são considerados de grande porte, sendo Caxias do Sul (RS) o mais populoso deles, com quase meio milhão de habitantes. Outros 27 são de médio porte (com população entre 25 mil e 100 mil) e a maioria (478) está situada na faixa de pequenos municípios, com menos de 25 mil habitantes.

É o caso, por exemplo, das três cidades capixabas citadas na pesquisa. Rio Bananal conta atualmente com cerca de 19 mil habitantes, Marilândia tem 12,3 mil e Governador Lindenberg possui 12,2 mil habitantes.

Ainda de acordo com o levantamento, das 27 unidades federativas, 24 contam com pelo menos uma localidade onde o câncer é a principal causa de mortalidade. Alagoas e Amapá foram os únicos estados onde essa situação não aconteceu, além do Distrito Federal, que, por sua característica administrativa, não se divide em municípios. Nos três, a principal causa de óbito está relacionada às doenças do aparelho circulatório.

Ações

Segundo análise do Observatório de Oncologia, a doença avança a cada ano e, se não houver mudanças significativas nas políticas públicas, em pouco mais de uma década as neoplasias serão as responsáveis pela maioria dos óbitos no Brasil. Para a coordenadora do movimento e presidente e da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE), Merula Steagall, a expectativa é de que o estudo contribua para um melhor planejamento das ações de controle, prevenção e tratamento da doença no Brasil.

“O aumento da mortalidade pela doença aqui está relacionado, também, às dificuldades enfrentadas pelo paciente para o diagnóstico e para o acesso ao tratamento. Diversos tipos de câncer são preveníveis e outros têm seu risco de morte significativamente reduzido quando diagnosticado precocemente. Nosso objetivo é alertar e engajar os múltiplos atores a somarem esforços no combate ao câncer”, destacou Merula.

Já o 1º secretário do Conselho Federal de Medicina (CFM), Hermann von Tiesenhausen, enfatizou a importância de se discutir o avanço do câncer, especialmente no momento em que os candidatos a cargos eletivos elegem suas prioridades para as eleições de 2018.

“Este diagnóstico revela um grave problema de saúde pública que, a cada ano, assume maior relevância na lista de prioridades dos gestores. Na visão do CFM, é preciso envidar todos os esforços para conter essa epidemia e manter a obediência às diretrizes e aos princípios constitucionais que regulam a assistência nas redes pública, suplementar e privada no Brasil”.

Outras pesquisas

Embora alarmantes, os dados mais recentes do TJCC são apenas mais um confirmador do crescimento de óbitos por câncer. Outro estudo recente, este conduzido pela Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), constatou, utilizando o DataSUS, que o número de mortes por câncer cresceu em 10 anos de cerca de 17%, pulando de 145 mil vítimas fatais, 78 a cada 100 mil habitantes, em 2005 para quase 207 mil mortos por câncer, 100 em cada 100 mil habitantes, em 2015.

Para o patologista Clóvis Klock, presidente da SBP, entidade que faz parte do Conselho Estratégico do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, o descaso com o diagnóstico é um fator determinante para o aumento de mortes por câncer. “A partir do momento em que uma suspeita é detectada por um clínico geral, o paciente do sistema público precisa ter acesso aos exames necessários para confirmação ou descarte dessa hipótese. Além dos exames clínicos e de imagens, o mais elementar de todos é a biópsia. Analisada pelo médico patologista em um laboratório, é ela quem levará ao laudo anatomopatológico, instrumento que diz se a amostra é ou não câncer. Esse processo feito no tempo correto salva vidas”, destaca o especialista.

Em outro levantamento do Observatório de Oncologia, esse realizado em agosto de 2017, constatou-se que 20,4% dos pacientes iniciam a fase de tratamento após um prazo de mais de 60 dias do primeiro diagnóstico, o que representa, mais do que um atraso perigoso, o descumprimento da Lei nº 12.732/12 (em vigor desde 23/05/3013) que estabelece o período de dois meses como prazo máximo para o primeiro tratamento oncológico no SUS a partir do laudo anatomopatológico.

“Para reduzir o número de mortes é preciso focar em três pilares, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento, o Brasil peca em todas as partes”, alerta o presidente da SBP. “Dentro da minha especialidade, que se encaixa no meio desse caminho que o paciente deve percorrer, é fácil notar o quanto a população desenvolve doença por um estilo de vida inadequado, o quanto é demorado o processo de diagnóstico e o quanto esse paciente vai esperar para o início dos tratamentos”, finaliza.

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