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'Quando vejo fogo, volta tudo à mente', diz sobrevivente do Joelma

Redação Folha Vitória

Mais de quatro décadas depois, os incêndios do edifício Andraus e do edifício Joelma - ambos no centro de São Paulo - ainda marcam a memória de muitos paulistanos. "Dá muita tristeza lembrar, mesmo tantos anos depois. E quando vejo a imagem de um incêndio, tudo volta à mente", diz o corretor de seguros Edson Sant'Anna, de 63 anos, um dos sobreviventes do incêndio no Joelma.

Em 1º de fevereiro de 1974, esse edifício foi palco de uma das maiores tragédias da cidade, deixando 187 mortos. Muitos deles se atiraram da janela, em desespero. Funcionário de um banco dentro do Joelma, Sant'Anna conta ter escapado por questão de minutos. "Meu posto ficava no mezanino, mas todas as sextas eu subia à tesouraria, no 20º andar, para pegar documentos. Quando o incêndio começou, eu já havia descido."

Quando alguém avisou que havia fogo no local, ele não se assustou. "Pensamos que era coisa pequena. Meus colegas e eu ainda pegamos nossos objetos pessoais calmamente antes de descer. Quando cheguei na calçada já havia corpos de quem se atirou. Olhei para cima e vi as chamas. Foi um choque", lembra ele, que dois anos antes havia assistido da janela de um prédio do centro o incêndio no Andraus, que teve 16 mortos.

Osório Gonçalves, de 64 anos, não teve a mesma sorte de Sant'Anna: ele trabalhava no 21º andar do Joelma. "Depois de horas de sufoco, fiquei com um grupo refugiado em um banheiro. O fogo avançava, o calor aumentava, as vidraças arrebentavam, os pulmões ardiam. Minhas orelhas ficaram queimadas, me esforçava para não desmaiar. Ouvíamos gritos das pessoas que se jogavam."

Durante o resgate, Osório estava no 19º andar e as escadas dos bombeiros só chegavam até o 13º. Foi preciso descer vários andares por cortinas perigosamente atadas às colunas. "Uma moça que estava comigo escorregou e morreu. Eu tinha só 20 anos, mas não esqueço", diz.

Sobrevivente do Andraus, Walter Sperandio, de 68 anos, se recordou vivamente daquele dia de terror ao ver na TV o prédio que desabou no Largo Paiçandu na última terça, no momento em que um homem era resgatado. "Esse era meu maior medo. Eu estava abrigado em uma escadaria onde as chamas não chegavam, mas via a violência do fogo refletida nos prédios vizinhos. Pensava que a estrutura poderia ceder", diz.

"Até hoje, quando entro em um edifício, ou mesmo em uma sala de cinema, a primeira coisa que faço é localizar as saídas de emergência", diz o contador Pedro, que também sobreviveu ao incêndio do Andraus. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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