Morte irmãos carbonizados

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Justiça marca primeira audiência sobre caso dos irmãos carbonizados em Linhares

Primeiras 15 testemunhas serão ouvidas no dia 23 de outubro no Fórum de Linhares, em audiência de instrução

Irmãos foram carbonizados no quarto da casa em que moravam

A primeira audiência para ouvir testemunhas no caso de incêndio que matou irmãos em Linhares foi marcada para o dia 23 de outubro. Serão ouvidas 15 pessoas em audiência fechada a pedido do Ministério Público Estadual (MPES). O órgão orientou sobre a manutenção do segredo de justiça do processo.

Audiência de instrução é a sessão na qual são produzidas grande parte das provas orais do processo. São ouvidas as partes (réus e acusação) e suas respectivas testemunhas.

Outras 21 testemunhas, entre peritos e bombeiros, serão ouvidas por carta precatória, depoimento colhido pela Justiça no município de domicílio da pessoa. Segundo o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), outras datas serão agendadas posteriormente. 

A primeira audiência deve ter a presença de Georgeval Alves Gonçalves, 36 anos, pai de Joaquim, de 3 anos e padrasto de Kauã, de 6 e Juliana Salles, mãe das crianças mortas no dia 21 de abril. 

> Relembre o caso e veja tudo que aconteceu até hoje

Uma semana após a morte dos irmãos, Georgeval foi preso por estar atrapalhando as investigações. Juliana foi presa em Minas Gerais no dia 20 de junho, acusada de ter conhecimento dos crimes cometidos pelo marido. 

Nessa segunda-feira (06), a Justiça negou, mais uma vez, o pedido de revogação de prisão de Juliana Salles.

Relembre o caso

No dia 21 de abril, Joaquim e Kauã estavam em casa com Georgerval. Juliana estava em viagem para um congresso religioso em outra cidade. 

Naquela madrugada, um incêndio atingiu o quarto onde os irmãos dormiam. O Corpo de Bombeiros foi acionado e as chamas foram controladas, mas os irmãos já estavam sem vida. Na hora das chamas, as crianças eram monitoradas por uma babá eletrônica.

Após o incêndio, os corpos carbonizados dos irmãos foram encaminhados para o Departamento Médico Legal (DML), em Vitória, onde foi necessária a realização de exames de DNA para identificação.

Depois que o fogo foi controlado, a casa, localizada na Avenida Augusto Calmon, no Centro de Linhares, foi isolada pelos bombeiros e pela Polícia Militar. A perícia técnica da Polícia Civil foi acionada e uma equipe do Corpo de Bombeiros fez uma inspeção para saber a causa do incêndio.

Na segunda-feira seguinte ao incêndio, o pastor George e a esposa, Juliana Salles, mãe das crianças, estiveram no DML para o recolhimento de material para realizar os exames de DNA. Na ocasião, George relatou para a imprensa o que teria acontecido na noite do incêndio.

George afirmou que sofreu queimaduras nos pés e nas mãos durante uma tentativa de salvar as crianças. Apesar disso, o médico perito que examinou o pastor teria encontrado pequenas bolhas nas mãos e nos pés do pastor.

No mesmo dia, Rainy Butkovsky, pai do menino mais velho, também esteve no DML e teve materiais genéticos colhidos. Muito abalado, ele disse que apesar de morar em Vitória e o filho em Linhares, eles eram próximos e o pastor cuidava dele como filho também.

Na primeira semana após a morte, a Polícia Civil ouviu o pastor e outras quatro testemunhas sobre o caso, sendo duas mulheres que moram na casa, mas não estariam no momento do incêndio. Também foram ouvidas duas pessoas que teriam ajudado o pastor George Alves no momento do incêndio.

Enquanto depoimentos eram prestados na delegacia, a casa onde aconteceu o incêndio e a morte dos irmãos passava por várias perícias. Na terceira delas, os peritos utilizaram um produto chamado “luminol”, que permite encontrar manchas invisíveis a olho nu. O recurso é capaz de detectar marcas de sangue e outros vestígios, mesmo depois de um incêndio e de o local ter sido limpo.

Uma semana após a morte das crianças, o pastor George teve a prisão decretada. De acordo com informações passadas por um investigador da Superintendência da Polícia Regional Norte (SPRN), o juiz expediu uma liminar com base no resultado dos exames de perícia e o pastor foi encaminhado para a 16ª Delegacia Regional de Linhares. Na ocasião, a Polícia Civil informou, por meio de nota, que a prisão de Georgeval Alves Gonçalves foi requerida para preservar o bom andamento das investigações. Ele foi colocado em uma cela isolada do Centro de Detenção Provisória de Viana.

No mesmo dia da prisão, a perícia realizada na casa encontrou vestígios de material biológico. A confirmação partiu do presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol), Jorge Emilio Leal, que informou que o material ainda demanda exame laboratorial.

Foi então que diversos detalhes da vida de George Alves começaram a aparecer. Antes de ser líder de uma igreja Batista de Linhares, o pastor era responsável por administrar um salão de beleza em São Paulo. Em publicações mais antigas nas redes sociais, o pastor mostra alguns dos trabalhos feitos. Alguns, inclusive, com a atual esposa, Juliana Salles, mãe dos meninos Joaquim e Kauã.

Dando continuidade às investigações, os médicos legistas do DML de Vitória retiraram amostras de urina, sangue e de órgãos vitais dos irmãos Joaquim e Kauan. O material foi enviado para análise e os exames podem apontar se eles foram dopados ou agredidos antes de serem carbonizados.

Após 11 dias do caso, foi realizada a perícia na casa, quando foi coletado material genético dentro do quarto onde os dois irmãos morreram. A coleta desse material é necessária para esclarecer etapa por etapa o que aconteceu antes e durante o incêndio na casa.

Foi neste mesmo dia que um grupo formado por cinco advogados de Minas Gerais e do Espírito Santo se voluntariou para defender o pastor George Alves. Na ocasião, Rodrigo Duarte, um dos advogados, que também é pastor e vice-presidente da Igreja Batista Ministério Vida e Paz, onde George ministra cultos, disse à reportagem da Rede Vitória que ainda não tinha tido acesso ao inquérito policial sobre o caso.

No dia 3 de maio, 12 dias após a morte, a pastora Juliana Salles, mãe dos irmãos prestou depoimento na 16ª Delegacia Regional de Linhares, por cerca de quatro horas. Por volta de 11h40, ela deixou a delegacia em uma viatura descaracterizada, sem falar com a imprensa.

O mesmo material utilizado em uma das perícias realizadas na casa onde ocorreu o incêndio também foi aplicado no carro que era utilizado pelo pastor George. O veículo foi submetido à uma nova etapa da perícia da Polícia Civil. O uso do luminol pode permitir a identificação de vestígios, como marcas de sangue.

Na o dia 4 de maio, peritos e militares do Corpo de Bombeiros se reuniram com o delegado responsável pelo caso dos irmãos. Também participaram da reunião o chefe do DML de Vitória, Vanderson Lugão, e o comandante do Corpo de Bombeiros de Linhares, Tenente Coronel Ferrari. O assunto da reunião não foi divulgado.

Na semana seguinte, uma nova pista que pode ajudar na investigação começou a aparecer. Um prontuário médico do pastor George Alves, realizado por um hospital de Linhares (HGL) horas depois do incêndio que teria provocado a morte dos irmãos não relata nenhuma tipo de queimadura. O documento foi divulgado pelo jornal online Norte Notícias e confirmado pela Prefeitura de Linhares ao jornal online Folha Vitória.

Depois do incêndio, o pai de Joaquim e padrasto de Kauã teria procurado atendimento no hospital por volta das 6 horas. As informações contidas na ficha de atendimento constam abalo emocional, mas não queimaduras.

Na ficha está escrito que, no hospital, o pastor relatou o que tinha acontecido, que estava em choque e que tinha inalado fumaça. A ficha revela que não foram feitos exames e o pastor foi liberado. Já os exames feitos na investigação policial apontaram uma pequena bolha em um dos pés.

O laudo dos exames de DNA nos corpos dos irmãos foi concluído no dia 07 de maio. De acordo com a Polícia Civil, os corpos foram identificados e já estão à disposição da família. No entanto, o caso segue sob segredo de Justiça, com acompanhamento do Ministério Público do Espírito Santo (MPES).

Por ocasião do sepultamento dos corpos, um especialista chegou a afirmar o pastor George teria o direito de deixar a prisão para acompanhar a cerimônia. No entanto, ele não foi liberado e não participou do enterro das crianças, que aconteceu em Linhares.

Na declaração de óbito das crianças, a causa da morte foi apontada como indeterminada. De acordo com médicos especialistas neste tipo de ocorrência, apontar a causa de morte como indeterminada é comum e acontece na maioria das vezes quando a pessoa tem o corpo carbonizados. O fato ocorre porque há dificuldade do trabalho de necropsia para os médicos legistas identificarem a causa da morte.

No dia 17 de maio, a Polícia Civil confirmou que trabalhava com a linha de investigação de homicídio na morte dos irmãos. A informação foi confirmada pelo delegado da 16ª Delegacia Regional de Linhares André Costa, que pediu prorrogação de 30 dias na prisão temporária de George Alves, pai e padrasto das crianças.

Dando continuidade às investigações, Rainy Butkovsky, de 31 anos, pai de Kauã, de 6 anos, foi chamado para depor na manhã do dia 21, na Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra. Ele ficou por cerca de 30 minutos prestando depoimento. Por volta de 12h05, Rainy saiu da delegacia e não quis falar com a imprensa.

Um mês após a morte dos irmãos Joaquim e Kauã, populares se reuniram na em frente à residência onde, no dia 21 de abril, os irmãos morreram. O encontro foi marcado por integrantes de grupos das redes sociais, como WhatsApp e Facebook.

No dia 23 de maio, a informação é de que foi prorrogada por mais 30 dias a prisão temporária do pastor George Alves, pai de Joaquim e padrasto de Kauã, mortos em Linhares.

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