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VÍDEO | Salve Comunidade: entenda como a sustentabilidade e inovação ajudam moradores da periferia

Série de reportagens especiais no Folha Vitória traz temas diversos que impactam as regiões com maior vulnerabilidade social da Gande Vitória

Foto: TV Vitória

Há pelo menos 16 anos, o Território do Bem vem resistindo e construindo novas narrativas e perspectivas pensadas para potencializar as comunidades. No entanto, nem sempre foi assim. 

A região composta pelos bairros Bonfim, Itararé, Gurigica, Floresta, Engenharia, São Benedito, Bairro da Penha, Consolação e Jaburu sempre figurou nos noticiários apenas na parte policial, estigmatizado como região violenta e perigosa.

É uma iniciativa pioneira no país em ações de mobilização, como o banco comunitário Banco Bem, fundado em 2005, que virou inspiração para muitos outros locais. 

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Durante a pandemia do coronavírus, o projeto foi mais uma vez inovador ao apoiar famílias e incentivar o comércio local por meio da moeda social e-dinheiro, repassado diretamente às contas de famílias empobrecidas e as dos pequenos comerciantes. 

Mais de 30 mil pessoas vivem por lá e menos de 20% dos trabalhadores têm carteira assinada. Em uma pesquisa feita nas comunidades do Território, em 2019, o acesso ao atendimento bancário foi o serviço mais pedido pelas famílias. 

No total, o banco comunitário já emprestou mais de R$ 2 milhões aos moradores das comunidades, pois a maioria não conseguiu crédito em outros bancos. 

Sustentabilidade e inovação é o tema do quarto e último episódio do quadro "Salve Comunidade". A reportagem de Jhon Conceiro mostra como moradores de comunidades periféricas, que dificilmente conseguiriam empreender pelo sistema financeiro comum, puderam realizar seus sonhos e prosperar economicamente.

Conheça o Banco Bem, projeto que criou oportunidades em periferias do ES

O que começou como um projeto, já rendeu boas oportunidades de mudança de vida para moradores de comunidades de Vitória. O banco comunitário também já entrou na onda da tecnologia e conta agora com moeda digital. 

A moeda própria foi criada em 2005, abrangendo apenas três comunidades. Hoje,  ela circula pelas mãos de moradores de nove bairros periféricos em Vitória, região conhecida como Território do Bem.

Foto: TV Vitória

Cada cédula ganhou um valor correspondente em dinheiro (aplicativo no celular) e há quatro anos o dinheiro digital chegou ao banco que dá crédito a quem precisa, inclusive a quem tem restrições em bancos tradicionais.

É o exemplo do microempresário Bismark Pereira Rocha, que abriu uma lanchonete e sorveteria no alto do bairro São Benedito. 

"Achei que fosse levar uns 10 anos para concretizar esse sonho. Muita gente fica com medo de empreender no próprio bairro por causa da violência. Não podemos paralisar por causa disso", aconselha.

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O objetivo do banco comunitário é fornecer serviços financeiros solidários para essa comunidade fazer circular a riqueza que produz. Em 16 anos de banco, os empréstimos já passaram da casa dos R$ 2 milhões e a inadimplência nunca passou de 2%. 

Em 2007, começou a funcionar também como um correspondente da Caixa Econômica Federal, nos mesmos moldes de um banco tradicional.

Os moradores têm no Banco Bem uma iniciativa que conduz o desenvolvimento socioeconômico da região, promovendo inclusão bancária e social, com serviços financeiros solidários.

A confeiteira Lorrayne Monteiro também é uma das beneficiadas pelo Banco Bem. Ela abriu uma confeitaria bem no meio da pandemia, no bairro São Benedito, e vê o negócio prosperar, inclusive ganhando prêmio como empreendedora. 

"Não conseguiria pegar o empréstimo por um banco normal. Recorri ao Banco Bem e consegui levantar o meu negócio. Levantei as paredes da minha cozinha. Daí, ano passado, ganhei o Prêmio Economia do Bem e, com o dinheiro, ajeitei as coisas por aqui, fiz os acabamentos que precisava", revelou.

Banco Bem já movimentou R$ 2,4 milhões 

O Banco Bem já emprestou, desde 2005, mais de R$ 2,4 milhões para moradores da região. São pessoas que dificilmente conseguiriam crédito em um banco comum. Alguns, inclusive, são pessoas que estão negativadas no sistema. 

De acordo com o indicador Serasa Experian de inadimplência do consumidor, hoje, no Espírito Santo, o percentual de pessoas com o nome sujo é de 41,%.

Em 2022, inclusive, o Brasil bateu novo recorde de inadimplentes ao passar de 66,1 milhões, em abril, para 66,6 milhões, em maio, maior número desde o começo da série histórica iniciada em 2016.

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Desde 2005, já foram feitos 374 empréstimos. Consumo imediato, com 700, e crédito produtivo, que já beneficiou mais de 530 comerciantes, 70% mulheres, colaborando com a criação de novos negócios ou com a melhoria dos empreendimentos.

Com a moeda social Bem e-dinheiro, o banco colabora com a circulação da riqueza local, ao estimular que as compras sejam realizadas no comércio do território. Antes no papel, agora a moeda funciona em aplicativo e no cartão. 

Essa modalidade faz toda a diferença, principalmente nesse momento de pandemia em que contamos com mais de R$ 120 mil em doações recebidas em real e transformadas em Bem e-dinheiro, destinada às famílias do território.

O banco faz parte do cotidiano dos moradores que vão até o local pagar boletos, sacar benefícios, imprimir currículo, pegar empréstimos.

Conheça o Salve Comunidade

O Salve Comunidade traz reportagens especiais sobre temáticas diversas que impactam as regiões com maior vulnerabilidade social. A proposta não é retratar apenas os problemas, mas também dar espaço para as ações positivas que acontecem na periferia, muito além da violência e da falta de segurança que são temas recorrentes.

O diferencial do quadro, que também vai ao ar no programa Balanço Geral, na TV Vitória, é que, nele, a própria comunidade fala de si para os moradores. Resgata suas histórias, suas conquistas, os desafios, contando tudo a partir do seu próprio olhar.

Foto: Reprodução/ DNA Urbano

E quem conta essas histórias é justamente quem vive e compartilha da rotina dessas comunidades: Jhon Conceito, poeta marginal que cresceu nas vielas de Vila Garrido, em Vila Velha, e hoje é referência capixaba em poetry slams - batalhas de poesia cantadas.

Quem capta as imagens e acompanha as entrevistas para o Salve Comunidade é o jovem Ricardo Pereira, filmmaker (cinegrafista) e dançarino, morador de Flexal 1, em Cariacica. Com apenas 19 anos, Ricardo trabalha na produtora Act Group Art - do produtor e artista Miqueias Silva, o MiQ, também localizada na periferia - e já produziu mais de 15 videoclipes, sempre com artistas de comunidade.

O Salve Comunidade surgiu a partir de um projeto do Folha Vitória em parceria com a empresa Meta (Facebook/Instagram), que tem ainda o apoio do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ); Associação Nacional de Jornais (ANJ) e Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner).

*Texto produzido pela jornalista Mayra Bandeira, da TV Vitória/Record TV.

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