Morte irmãos carbonizados

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Após 9 horas, 16 testemunhas são ouvidas em audiência sobre caso dos irmãos mortos em Linhares

A segunda etapa da audiência de instrução do processo, realizada no fórum do município, teve início por volta das 9 horas e terminou às 18h20 desta terça-feira

Foto: Andre Vinícius Carneiro
Durante a manhã, um protesto foi realizado na porta do fórum onde aconteceu a audiência

Durou cerca de nove horas a segunda etapa da audiência de instrução do processo referente à morte dos irmãos Joaquim Alves Sales, de 3 anos, e Kauã Sales Butkovsky, de 6, mortos carbonizados, na madrugada do dia 21 de abril, durante um incêndio na casa onde os dois moravam em Linhares, no norte do Estado. Ao todo 16 pessoas foram ouvidas nesta terça-feira (23) no Fórum Desembargador Mendes Wanderley, no bairro Três Barras, no mesmo município.

A audiência teve início por volta das 9h e terminou às 18h20. Durante a manhã, foram ouvidas quatro pessoas: um delegado que acompanhou o caso, um investigador da Polícia Civil e dois bombeiros. A audiência foi interrompida para o almoço e retomada por volta das 14 horas.

No início da tarde, foram ouvidos os pais de Juliana Sales, mãe de Kauã e Joaquim, presa por causa da morte dos filhos. Segundo informações do site Norte Notícias, ao longo do dia também foram ouvidos outros dois bombeiros, dois homens que encontraram com Georgeval instantes após o início do incêndio e duas vizinhas da família.

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Georgeval e Juliana estiveram no fórum para acompanhar os depoimentos. Eles chegaram ao local por volta das 8h30, em uma viatura da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus). Segundo a defesa, os dois foram requisitados pela Justiça para acompanhar as oitivas das testemunhas nesta terça-feira.

Em determinado momento da audiência, Georgeval Alves, pai de Joaquim e padrasto de Kauã, pediu licença da sala para ir até o banheiro. Georgeval, que teve o direito concedido pelo magistrado, demorou cerca de cinco minutos fora da sala e só então retornou ao local para continuidade da audiência.

Foto: TV Vitória
Sargento Paulo Roberto foi ouvido durante a manhã no Fórum de Linhares

O sargento Paulo Roberto, do Corpo de Bombeiros, que ajudou no combate ao incêndio na casa onde aconteceu a tragédia e foi ouvido durante a manhã, disse que só conseguiu ver Juliana durante a audiência. "Eu só vi a Juliana acompanhando, não vi o Georgeval. Ela aparentou estar sofrendo, está chorando o tempo inteiro e só ouvindo, mas não se pronuncia, não fala nada", contou.

O militar não entrou em detalhes sobre o que foi dito durante seu depoimento. "Só querem ver se foi a mesma coisa que foi falado na época, se está de acordo com a ocorrência, se eu tenho algum fato novo a acrescentar. Mas não tem nada além do que já está relatado em ocorrência. Eu sou da equipe de incêndio, só entrei e atuei no incêndio. Na verdade ele quer saber mais da equipe de resgate, que atendeu o pastor. Quer saber se tinha queimadura ou não. Mas ele vai ouvir o chefe da equipe de resgate do dia, que está aqui dentro também", disse Paulo Roberto.

Protesto

Na expectativa de acompanhar a audiência, o pai de Kauã, o comerciante Rainy Butkovsky, de 31 anos, saiu da Grande Vitória, onde mora, e foi até o fórum de Linhares. No entanto, ele não foi autorizado a entrar e teve de ficar do lado de fora, o que o deixou revoltado.

Foto: TV Vitória
Rainy foi impedido de acompanhar os depoimentos dentro do fórum

"Por que o meu advogado não pode ter ciência do processo? A sociedade quer saber, a gente quer saber. Por que três advogados pilantras, safados, de dois monstros sem vergonha, podem tomar conhecimento do processo? E minha família, que vocês nunca procuraram para dar um respaldo? Que está sofrendo até hoje, que está com problema psicológico, que nunca teve nenhuma atenção. Vocês não deixam a gente tomar conhecimento do processo. O que vocês estão escondendo?", questionou Rainy.

Para evitar transtornos, a entrada do fórum foi bloqueada por policiais militares, que também reforçaram a segurança dentro do local. Mesmo assim, Rainy Butkovsky, acompanhado de familiares e amigos, realizou um protesto na porta do fórum. Os manifestantes utilizaram camisetas com homenagem aos irmãos mortos e pedido de justiça.

"Sou o único pai da história do Brasil que perdeu o filho estuprado, agredido e ateado fogo vivo e onde não teve notoriedade nacional, onde não se fala mais nisso. Já se passaram seis meses, mas o sofrimento continua", lamentou.

"O próprio Ministério Público, o próprio juiz relatou. Fizeram dez relatos. O primeiro relato diz: 'Juliana Pereira Sales e Georgeval Alves se uniram para ceifar a vida de Kauã e Joaquim, em prol de aumentar a arrecadação de fiéis e em prol de se promover no meio religioso'. Isso quer dizer o que? Que Juliana não foi omissa. Juliana foi conivente", completou Rainy.

A produção da TV Vitória/Record TV entrou em contato com o Ministério Público Estadual (MPES) para saber o motivo pelo qual o advogado de Rainy foi impedido de entrar como parte do processo. O órgão informou que, após ouvir o MPES, a Justiça indeferiu o pedido do advogado para ingressar nos autos como assistente de acusação. O Ministério Público informou ainda que toda e qualquer informação que possa auxiliar na acusação pode ser prestada junto à Promotoria de Justiça de Linhares.

Primeira audiência

No dia 10 deste mês, foi realizada a primeira etapa da audiência de instrução do caso, na 1ª Vara Criminal, no Centro da capital. Na ocasião, foram ouvidos Rainy Butkovsky, pai de Kauã, e a avó, Marlúcia Butkovsky. Também foram ouvidos peritos da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros, responsáveis pela investigação das causas do incêndio.

Ainda estão previstas audiências em São Mateus e em Minas Gerais, estado onde Juliana foi presa. As testemunhas serão ouvidas por 'carta precatória', instrumento utilizado pela Justiça quando existem indivíduos em comarcas diferentes. É um pedido que um juiz envia a outro de outra comarca.

A audiência de instrução é a sessão na qual são produzidas grande parte das provas orais do processo. São ouvidas as partes (réus e acusação) e suas respectivas testemunhas.

Mortes

Joaquim Alves Salles e Kauã Salles Butkovsky morreram em um incêndio no dia 21 de abril deste ano, em Linhares. Georgeval Alves foi acusado pelo Ministério Público do Espírito Santo de estuprar, agredir e queimar as crianças ainda vivas. Ele foi preso uma semana após o crime e segue detido no Centro de Detenção Provisória de Viana.

Apesar de Juliana, mãe dos irmãos, não estar na casa na noite do crime, ela também foi presa porque, segundo denúncia do Ministério Público, foi omissa e sabia dos abusos que as vítimas sofriam. Juliana foi detida em Minas Gerais e depois transferida para o presídio feminino de Cariacica.

Denúncia

A Justiça do Espírito Santo recebeu, no dia 18 de junho, a denúncia feita pelo MPES, por meio da Promotoria de Justiça de Linhares, contra Georgeval Alves e Juliana Sales. O Ministério Público também pediu a prisão preventiva deles, por prazo indeterminado, pelos crimes de duplo homicídio, estupros de vulneráveis e fraude processual. Georgeval responderá ainda pelo crime de tortura.

De acordo com o mandado de prisão expedido pelo juiz André Bijos Dadalto, da 1ª Vara Criminal de Linhares, ambos foram presos por homicídio qualificado. O advogado criminalista Rivelino Amaral disse que, com base no mandado, o Ministério Público percebeu indícios de uma possível participação de Juliana Salles na morte dos filhos. Inicialmente, a Polícia Civil do Espírito Santo descartou qualquer participação de Juliana no caso.

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