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Irmãs que trabalham em borracharia de Guarapari falam sobre preconceito: 'pediram para que um rapaz fizesse o serviço'

As duas irmãs, de 20 e 17 anos, ajudam o pai há pouco tempo, mas já vivenciaram o preconceito

Trocar pneus, fazer remendos nas rodas e realizar reparos nas câmaras de ar... Muitas vezes, esses serviços são executados exclusivamente por homens. Porém, em uma borracharia localizada no município de Guarapari, é diferente. Duas irmãs estão colocando a 'mão na roda' para ajudar o pai. 

Em meio a crise e a falta de emprego, elas encontraram na borracharia do pai uma oportunidade de ganhar dinheiro. Ulliana Sabrina Nascimento Aragão, de 20 anos, foi a primeira a encarrar a profissão. Ela conta que no começo imaginou que fosse fazer apenas serviços administrativos. Mas com o passar do tempo, acabou ajudando nos trabalhos mais pesados.

"Há oito meses meu marido ficou desempregado, e eu estava tendo dificuldade de encontrar emprego aqui em Guarapari. Deixava vários currículos em lojas e não era chamada nem pra entrevista. Então eu me vi em uma situação difícil. Foi ai que tive a ideia de vim pra borracharia do meu pai, a princípio ajudar apenas atendendo clientes, e passando o cartão. Mas como o movimento foi aumentando, acabou que comecei a colocar a mão na massa, e hoje já faço muita coisa", contou Ulliana.

Ulliana, que é a filha mais velha, disse que no começo teve muita dificuldade em executar os serviços. Porém com a prática e supervisão do pai e também do marido que trabalha no local, foi melhorando, e hoje já faz o trabalho com mais facilidade. 

Quem também resolveu entrar na onda da Ulliana e encarar o desafio, foi a irmã mais nova, Myllena Ramalhete. Com apenas 17 anos, ela realiza todos os serviços pesados de uma borracharia. "No começo eu fiquei preocupada de não dar conta do serviço. Mas sempre quando tem um trabalho mais pesado, que requer muita força, eu recorro aos homens que trabalham com a gente na borracharia pra poder me ajudar". completou Myllena.

As duas irmãs estão fazendo sucesso nos serviços. O pai, José Antônio Ramalhete, de 48 anos, conhecido na cidade saúde como "Dico", fica orgulhoso em ter as duas filhas trabalhando ao lado dele. A borracharia já existe há 26 anos em Guarapari, e nunca teve mulheres como funcionárias. Ele conta que alguns clientes ficam assustados quando chegam na borracharia e encontram as duas filhas.

"Alguns clientes ficam desconfiados no começo, mas a gente sempre conversa com a pessoa que vai fazer o serviço. No final eu sempre dou uma conferida, e as pessoas acabam pegando a confianças nas meninas", contou Dico.

Mesmo com pouco tempo de trabalho, as duas já passaram por algumas situações em que vivenciaram o preconceito por estarem exercendo uma profissão. Ulliana conta que às vezes, muitos homens chegam na borracharia e preferem que outro homem faça o serviço. "Eu fico até meio chateada, mas na maioria das vezes, as pessoas quando me olham trabalhando, acham interessante, e depois que começo a fazer o serviço, confiam no meu trabalho". 

Myllena disse que as vezes o preconceito não é só dos homens. " Outro dia, veio uma moça aqui , eu fui atender, e ela pediu que um rapaz fizesse o serviço pra ela. Na hora eu fiquei sem graça com a situação", contou,

Apesar de estarem gostando de trabalhar na borracharia do pai, as meninas tem outros sonhos. Myllena quer seguir a carreira de policial militar. Já Ulliana, pretende fazer faculdade de Fisioterapia.

Reportagem: Vitor Moreno 

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