Medicamentos orais: os grandes simuladores de doenças

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Medicamentos orais: os grandes simuladores de doenças

Muitos medicamentos da classe dos antialérgicos não esteroidais, se encontram na lista das substâncias que dão alergia

Há alguns anos a dermatologia vem observando "doenças" com características clínicas atípicas, isto é, com lesões clínicas de um determinado grupo de doenças, mas cujos exames e biópsia nem sempre confirmam o diagnóstico.

Entre os sinais e sintomas apresentados, muito comum são o formigamento na pele, focos isolados de coceira, inchaço nos olhos, manchas escuras simulando olheiras, assim como disseminadas pelo corpo - conhecidas popularmente como “manchas de melancolia” -, aftas recorrentes e intratáveis, lábios constantemente ressecados, enfim, são tantas as queixas e tão inespecíficas que trazem dificuldade de encaixá-las em qualquer doença que seja.

No fim, todos acabam recebendo o diagnóstico da doença do século: estresse. “Estresse” como causa das manifestações de alergia na pele, quem acabam, inicialmente, sendo tratadas por outros especialistas. Com esse diagnóstico e, consequentemente, com o uso de mais medicamentos para o controle do estresse, esses pacientes vão só piorando.

De fato, nascemos com um sistema imunológico competente, que tem como função nos proteger dos mais variados “antígenos “(bactérias, fungos, vírus, células malignas), inclusive substâncias químicas (que ingerimos diariamente nos alimentos industrializados), mas o progresso, além de nos trazer muitas facilidades, trouxe-nos um grande ônus: as doenças por hipersensibilidade.

Constata-se que essas doenças possuem as mais variadas formas clínicas (manchas escuras, vermelhas ou roxas, lesões circinadas que se parecem com fungos na pele, queda de cabelo, acne, exacerbação da dermatite seborreica, boca seca, lábios ressecados , úlceras na boca, edema nos olhos ou em um olho só) e sintomas subjetivos (fisgar, arder, coçar), ou até mesmo nenhum sintoma.

Desde a gestação estamos expostos aos medicamentos maternos (através do sangue na placenta e, posteriormente, no aleitamento), assim como do leite de vaca (pelo uso indiscriminado de remédios no tratamento das doenças dos bovinos), alimento básico na infância, e em tudo mais que comemos. Soma-se a isso, o uso indiscriminado dos analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios para aliviar as dores e febres das gripes, sinusites e otites, muito comuns na infância.

O uso de medicamentos ou substâncias químicas (aspartame, sacarina, ciclamato, entre outras), como também o uso dos fitoterápicos (chá verde, kava kava, valeriana, camomila, aloe vera, arnica, juniper, chicória, entre outros) têm se tornado uma constante nas últimas décadas, seja por prescrição médica ou automedicação. Estamos sempre nos deparando com pacientes que tomam anti-hipertensivos, antidiabéticos orais, medicamentos para restaurar a função tireoidiana, sem contar os mais variados antidepressivos que existem no mercado.

Por outro lado, como não tratar uma hipertensão arterial? Ou o diabetes? Ou um Hipotireoidismo? Ou, tão importante quanto as outras doenças, a depressão, que mina nossa energia, nos transforma em pessoas intratáveis e anti sociais, inclusive comprometendo nossa relação familiar? Infelizmente precisamos usar essas medicações. Assim, o meu alerta é: NÃO associarmos aos medicamentos essenciais, para o equilíbrio da nossa saúde, aqueles dispensáveis na maioria das situações, como os analgésicos e anti-inflamatórios, para qualquer dor ou mal-estar que nos acometa.

O desencadeamento da resposta alérgica pode acontecer independente do tempo de uso do medicamento/ substância química/ fitoterápicos. É muito comum acharmos que só os medicamentos que nunca tomamos é que podem ser a causa de uma determinada reação. Nem sempre, e muito pelo contrário. Podem ser apenas o estímulo que faltava para se completar a cadeia das células inflamatórias da resposta alérgica.

Além disso, é necessário ressaltar que essa sensibilização também se observa através do uso tópico (diretamente na pele) de produtos (pomadas ou cremes de antibiótico, antifúngicos e anti-inflamatórios), uma vez que o uso de medicamentos em feridas ou áreas escoriadas, assim como em mucosas (olhos, narinas, lábios, genitais) nos sensibiliza sistemicamente.

Para piorar esse cenário, encabeçam a lista dos mais alergizantes, famosos e tão conhecidos pela classe médica, os corticosteróides orais ou injetáveis, principalmente à base de prednisona, prednisolona, betametasona, budesonida, fludrocortisona e, até mesmo a hidrocortisona.

Muitos medicamentos, da classe dos antialérgicos não esteroidais, também se encontram na lista das substâncias que dão alergia, como a Loratadina, o Hidroxizine, a Cetirizina, a Levocetirizina, a Fexofenadina, a Desloratadina, e até mesmo um dos últimos lançados no mercado, a Rupatadina (todos esses medicamentos citados estão compilados no aplicativo Skin Drug Reactions Base, e aprovados pela EADV).

Na presente data, dois medicamentos e uma substância química, muito usados por nós, brasileiros, já foram proibidos a comercialização nos USA: Dipirona, Ketoconazol e Aspartame.

Não por outro motivo que, nos últimos Congressos Internacionais, principalmente nos Europeus, o tema mais abordado e exaustivamente discutido, em todos os dias de evento, tem sido de REAÇÃO MEDICAMENTOSA: Mecanismo de ação, diagnóstico, manifestações clínicas, dessensibilização e identificação dos agentes sensibilizantes.

Como evidenciado, trata-se de um problema crescente e de difícil abordagem, em razão de tantos medicamentos e substâncias químicas sendo usados ao mesmo tempo. Assim, identificar aquela substância que está, naquele momento, induzindo hipersensibilidade, é tarefa que requer paciência e compreensão, tanto dos pacientes quanto dos outros especialistas, pois a substituição das prescrições envolve também parceira com os colegas médicos.

Finalizando, deixo aqui meu alerta e minha preocupação: reação alérgica à medicamento, substâncias químicas, ou fitoterápicos, pode levar ao óbito. Subitamente ou lentamente, seja pela destruição dos vasos sanguíneos da pele e dos outros órgãos (vasculites leucocitoclásicas), pela intensa vasculite necrotizante que causam, através do descolamento de toda a camada superficial da pele, levando ao aparecimento de bolhas (Síndrome de Stevens Johnson e Eritema Polimorfo forma major), até com necrose da mesma (Necrólise Tóxica da Epiderme), seja pelas complicações das alergias, como infecção local ou generalizada (sépsis).

Aliás, está sendo muito frequente, nos últimos anos, uma “doença” por hipersensibilidade sistêmica à medicamento, principalmente aqueles à base de Sulfametoxazol, chamada DRESS (Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms), onde observamos alterações cardíacas, hepatite, falta de ar, lesão renal, febre, vermelhidão cutânea generalizada, bolhas nas mucosas e um grave comprometimento do estado geral do paciente.

Tenho certeza de que, muitos que estão lendo, nesse momento, esse artigo, já devem ter vivido alguma experiência dessas citadas (muito traumáticas), em si próprio ou em algum membro da família.

Portanto, dificultam a ingestão de remédio para qualquer “dor” (de cabeça, de dente, na coluna etc..); evitem andar com remédio na bolsa, a não ser que sejam aqueles específicos para as grandes crises; não tomem antibiótico para qualquer infecção superficial ou localizada; e, principalmente, NÃO SE AUTOMEDIQUEM.