Morte irmãos carbonizados

Polícia

Especialistas avaliam comportamento de pastor após assassinar irmãos em Linhares

Na noite do dia do crime, Georgeval Alves esteve em uma Lanchonete do município e, no dia seguinte, participou de um culto em sua igreja

Georgeval Alves participou de um culto um dia depois do assassinato de Joaquim e Kauã

Um detalhe que chamou muito a atenção de quem acompanhou os desdobramentos do assassinato dos irmãos Joaquim Alves Sales, de 3 anos, e Kauã Sales Butkovsky, de 6, foi o comportamento de Georgeval Alves, apontado pela polícia como o autor do crime.

Na noite do dia do crime - 21 de abril - o pastor esteve em uma lanchonete, em Linhares, com a esposa, o filho mais novo e membros da Igreja Batista Vida e Paz, onde ele ministrava cultos. Imagens de câmeras de segurança do estabelecimento mostram que Georgeval estava com o pé enfaixado e aparentemente mancava.

Já no dia seguinte, Georgeval participou de um culto na igreja da qual participa, ao lado da esposa e mãe das crianças, Juliana Salles. A mulher, que também é pastora na igreja, estava em um congresso em Minas Gerais, com o filho mais novo do casal, no dia da morte de Joaquim e Kauã.

Pastor também esteve em uma lanchonete no mesmo dia em que os meninos foram mortos

O dono da lanchonete onde Georgeval esteve na noite do dia 21 de abril conta que, durante sua estadia no estabelecimento, o pastor parecia estar pensativo. Outro detalhe que chamou a atenção do comerciante foi o fato de o suspeito chegar ao local mancando e, logo depois, começar a andar normalmente.

"Nós percebemos que ele estava muito pensativo. Não parecia estar abalado, mas pensativo e preocupado. Estava muito na dele, olhava para cima, olhava de lado, pegava o nenezinho dele no colo. Inclusive ele até chegou mancando e depois a gente percebeu que ele estava andando praticamente normal. Foi quando a gente questionou: 'como ele queimou as mãos e os pés e chegou mancando e depois acabou andando normalmente'", contou o comerciante à reportagem da TV Vitória/Record TV.

Entrevista

No dia 23, o pastor e a esposa estiveram no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, onde foi coletado eles material genético para a realização do exame de DNA que identificou os corpos das crianças. Na ocasião, Georgeval conversou com a imprensa e afirmou que queimou os pés e as mãos na tentativa de salvar os meninos.

O delegado aposentado da Polícia Civil, Adroaldo Lopes, que já esteve à frente de diversas investigações a respeitos de homicídios, afirmou, durante participação no programa Balanço Geral Espírito Santo, que desconfiou, de cara, da fala de Georgeval durante a entrevista.

Em entrevista dois dias depois do crime, Georgeval afirmou que tentou salvas as crianças

"A primeira vez que eu vi a matéria sobre esse crime, eu estava ao lado da minha esposa e, assim que aquele indivíduo acabou de dar a entrevista, minha esposa falou: 'coitado'. Eu falei: 'tem alguma coisa errada aí'. Eu sei que é fácil falar agora, depois que [o crime] já está esclarecido, mas naquele momento eu falei que tinha alguma coisa errada e ela falou: 'poxa, como você faz um comentário desse? O homem está até chorando'. E o perfil dele é esse aí, que foi mostrado naquela entrevista. Um perfil doentio, de uma pessoa que não tem valores, que não liga para as outras pessoas", disse Adroaldo.

"Essa riqueza de detalhes que ele tenta encaixar na história dele foi o que me chamou a atenção. Ele procurou pequenos detalhes e isso me chamou a atenção diante do sentimento que ele estava tendo naquele momento em relação à perda do filho e do enteado. Então não era condizente ele procurar pequenos detalhes para ilustrar a fala dele", acrescentou Adroaldo Lopes.

O também delegado aposentado e perito criminal, Marco Antônio Jager, disse que também desconfiou do discurso de Georgeval. "Todos os indícios, todas as informações, toda a ausência de linguagem corporal do suspeito já focavam na sua culpabilidade a priori - porque ele não foi julgado ainda. Mas mostravam que esse resultado viria mais cedo ou mais tarde", comentou Jager, em entrevista ao programa Fala Espírito Santo.

Já o presidente do Conselho Regional de Psicologia do Espírito Santo, Diemerson Saquetto, avaliou que o comportamento do pastor se assemelha a de um psicopata. "A gente consegue perceber claramente, com a maneira como ele criou um discurso, sinais de uma psicopatologia muito grave. Ele não está contando uma mentira, mas se convenceu de que aquele discurso era um discurso verdadeiro. Então essa história não é uma história linear. Ela é muito complexa. O psicopata não mente deliberadamente. Ele se convence da mentira, do próprio discurso, e, ao adentrar nesse discurso, ele, convencido de que aquilo é verdade, entra na própria história", explicou.

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