Morte irmãos carbonizados

Polícia

Pai de Kauã revela que desconfiou de George Alves após prisão

Rainy Butkovsky conversou, com exclusividade, com o jornalismo da TV Vitória na manhã desta sexta-feira (25).

O pai do menino Kauã Sales Butkovsky, de 6 anos, Rainy Butkovsky, revelou, na manhã desta sexta-feira (25), que desconfiou do envolvimento de George Alves na morte da criança e do irmão Joaquim Alves Sales, de 3 anos no momento em que o pastor foi preso temporariamente, no último dia 28 de abril.

Rainy conversou, com exclusividade, com o jornalismo da TV Vitória. "Eu gostaria muito de ver meu filho crescer, mas, lamentavelmente, não vou poder, por conta dessa tragédia. Eu comecei a desconfiar do envolvimento de George a partir do momento em que foi pedida a prisão dele", afirma.

Segundo Rainy, após as mortes de Kauã e Joaquim - filho de George -, o pastor foi até o restaurante da família de Butkovsky, localizado na Grande Vitória, e fez uma oração com os familiares. Ele revelou ainda que, após a morte do filho, ele participará de projetos para ajudar crianças vítimas de violência.

(Com informações do repórter Marcelo Rosa, da TV Vitória)

Conclusão da polícia

Depois de mais de 30 dias da morte dos irmãos, o silêncio e o mistério sobre as investigações finalmente foram encerrados nesta quarta-feira (23). A Polícia Civil informou que concluiu que o pastor Georgeval Alves abusou sexualmente e matou filho e enteado em Linhares.

Antes de passar a palavra para os responsáveis pela investigação, o secretário de Estado de Segurança Pública, Nylton Rodrigues, deu a seguinte declaração: "As investigações e os laudos são esclarecedores, definitivos e inegáveis. O inquérito será encaminhado ao Ministério Público, ao poder judiciário para que a Justiça seja aplicada".

De acordo com o chefe da Regional de Linhares, André Jaretta, as investigações apontaram ainda que as crianças morreram carbonizadas e que o fogo foi ateado no quarto onde elas estavam quando ainda estavam vivas.

"Inicialmente, todos nós acreditávamos que poderia ser acidental. Quando se teve o primeiro contato com o indiciado, notou-se que a versão apresentada por ele era incompatível com a experiência do Corpo de Bombeiros com este tipo de incêndio", afirmou o Jaretta.

Após notar também que as lesões apresentadas pelo pastor George eram incompatíveis com o cenário e o volume do incêndio e outros vestígios, foi verificado a possibilidade de um homicídio.

"Naquela madrugada, o investigado molestou as duas crianças, consistente em coito anal. Isso foi demonstrado pelo encontro de uma substância denominada PSA, encontrada no sêmen humano. Essa substância foi encontrada no orifício anal das duas vítimas", afirmou o delegado.

Depois disso, as investigações apontaram que as crianças foram agredidas fisicamente e levadas vivas para o quarto, quando o fogo foi ateado. "Elas morreram carbonizadas, pois apresentavam uma substância na traqueia que demonstravam que elas respiravam na hora do incêndio", contou.

Após atear fogo no local onde se encontravam as crianças, a investigação concluiu que o pastor ficou andando de um lado paro outro, dentro de casa, sem abrir as portas. Depois disso, populares viram a cena, arrombaram o portão e tentaram prestar socorro, mas não havia mais o que fazer. "Posteriormente ele tentou se promover publicamente, tentando passar uma personalidade inversa daquilo que ele demonstrou", concluiu o delegado.

George Alves será indiciado por duplo homicídio triplamente qualificado e duplo estupro de vulnerável. A soma das penas máximas podem chegar a 126 anos de reclusão.

Relembre o caso

A morte dos irmãos aconteceu em Linhares, Norte do Espírito Santo, na madrugada do dia 21 de abril. Na ocasião, mãe das crianças estava em viagem para um congresso religioso em outra cidade. Na casa, os meninos estavam sob o cuidado de Georgeval Alves Gonçalves, 36 anos, conhecido como pastor George Alves, pai do menino Joaquim e padrasto de Kauã.

Naquela madrugada, um incêndio atingiu o quarto onde os irmãos dormiam. O Corpo de Bombeiros foi acionado e as chamas foram controladas, mas os irmãos já estavam sem vida. Na hora das chamas, as crianças eram monitoradas por uma babá eletrônica.

Após o incêndio, os corpos carbonizados dos irmãos foram encaminhados para o Departamento Médico Legal (DML), em Vitória, onde foi necessária a realização de exames de DNA para identificação.

Depois que o fogo foi controlado, a casa, localizada na Avenida Augusto Calmon, no Centro de Linhares, foi isolada pelos bombeiros e pela Polícia Militar. A perícia técnica da Polícia Civil foi acionada e uma equipe do Corpo de Bombeiros fez uma inspeção para saber a causa do incêndio.

Na segunda-feira seguinte ao incêndio, o pastor George e a esposa, Juliana Salles, mãe das crianças, estiveram no DML para o recolhimento de material para realizar os exames de DNA. Na ocasião, George relatou para a imprensa o que teria acontecido na noite do incêndio.

George afirmou que sofreu queimaduras nos pés e nas mãos durante uma tentativa de salvar as crianças. Apesar disso, o médico perito que examinou o pastor teria encontrado pequenas bolhas nas mãos e nos pés do pastor.

No mesmo dia, Rainy Butkovsky, pai do menino mais velho, também esteve no DML e teve materiais genéticos colhidos. Muito abalado, ele disse que apesar de morar em Vitória e o filho em Linhares, eles eram próximos e o pastor cuidava dele como filho também.

Na primeira semana após a morte, a Polícia Civil ouviu o pastor e outras quatro testemunhas sobre o caso, sendo duas mulheres que moram na casa, mas não estariam no momento do incêndio. Também foram ouvidas duas pessoas que teriam ajudado o pastor George Alves no momento do incêndio.

Enquanto depoimentos eram prestados na delegacia, a casa onde aconteceu o incêndio e a morte dos irmãos passava por várias perícias. Na terceira delas, os peritos utilizaram um produto chamado “luminol”, que permite encontrar manchas invisíveis a olho nu. O recurso é capaz de detectar marcas de sangue e outros vestígios, mesmo depois de um incêndio e de o local ter sido limpo.

Uma semana após a morte das crianças, o pastor George teve a prisão decretada. De acordo com informações passadas por um investigador da Superintendência da Polícia Regional Norte (SPRN), o juiz expediu uma liminar com base no resultado dos exames de perícia e o pastor foi encaminhado para a 16ª Delegacia Regional de Linhares. Na ocasião, a Polícia Civil informou, por meio de nota, que a prisão de Georgeval Alves Gonçalves foi requerida para preservar o bom andamento das investigações. Ele foi colocado em uma cela isolada do Centro de Detenção Provisória de Viana.

No mesmo dia da prisão, a perícia realizada na casa encontrou vestígios de material biológico. A confirmação partiu do presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol), Jorge Emilio Leal, que informou que o material ainda demanda exame laboratorial.

Foi então que diversos detalhes da vida de George Alves começaram a aparecer. Antes de ser líder de uma igreja Batista de Linhares, o pastor era responsável por administrar um salão de beleza em São Paulo. Em publicações mais antigas nas redes sociais, o pastor mostra alguns dos trabalhos feitos. Alguns, inclusive, com a atual esposa, Juliana Salles, mãe dos meninos Joaquim e Kauã.

Dando continuidade às investigações, os médicos legistas do DML de Vitória retiraram amostras de urina, sangue e de órgãos vitais dos irmãos Joaquim e Kauan. O material foi enviado para análise e os exames podem apontar se eles foram dopados ou agredidos antes de serem carbonizados.

Após 11 dias do caso, foi realizada a perícia na casa, quando foi coletado material genético dentro do quarto onde os dois irmãos morreram. A coleta desse material é necessária para esclarecer etapa por etapa o que aconteceu antes e durante o incêndio na casa.

Foi neste mesmo dia que um grupo formado por cinco advogados de Minas Gerais e do Espírito Santo se voluntariou para defender o pastor George Alves. Na ocasião, Rodrigo Duarte, um dos advogados, que também é pastor e vice-presidente da Igreja Batista Ministério Vida e Paz, onde George ministra cultos, disse à reportagem da Rede Vitória que ainda não tinha tido acesso ao inquérito policial sobre o caso.

No dia 3 de maio, 12 dias após a morte, a pastora Juliana Salles, mãe dos irmãos prestou depoimento na 16ª Delegacia Regional de Linhares, por cerca de quatro horas. Por volta de 11h40, ela deixou a delegacia em uma viatura descaracterizada, sem falar com a imprensa.

O mesmo material utilizado em uma das perícias realizadas na casa onde ocorreu o incêndio também foi aplicado no carro que era utilizado pelo pastor George. O veículo foi submetido à uma nova etapa da perícia da Polícia Civil. O uso do luminol pode permitir a identificação de vestígios, como marcas de sangue.

Na última sexta-feira (4), peritos e militares do Corpo de Bombeiros se reuniram com o delegado responsável pelo caso dos irmãos.Também participaram da reunião o chefe do DML de Vitória, Vanderson Lugão, e o comandante do Corpo de Bombeiros de Linhares, Tenente Coronel Ferrari. O assunto da reunião não foi divulgado.

Na semana seguinte, uma nova pista que pode ajudar na investigação começou a aparecer. Um prontuário médico do pastor George Alves, realizado por um hospital de Linhares (HGL) horas depois do incêndio que teria provocado a morte dos irmãos não relata nenhuma tipo de queimadura. O documento foi divulgado pelo jornal online Norte Notícias e confirmado pela Prefeitura de Linhares ao jornal online Folha Vitória.

Depois do incêndio, o pai de Joaquim e padrasto de Kauã teria procurado atendimento no hospital por volta das 6 horas. As informações contidas na ficha de atendimento constam abalo emocional, mas não queimaduras.

Na ficha está escrito que, no hospital, o pastor relatou o que tinha acontecido, que estava em choque e que tinha inalado fumaça. A ficha revela que não foram feitos exames e o pastor foi liberado. Já os exames feitos na investigação policial apontaram uma pequena bolha em um dos pés.

O laudo dos exames de DNA nos corpos dos irmãos foi concluído no dia 07 de maio. De acordo com a Polícia Civil, os corpos foram identificados e já estão à disposição da família. No entanto, o caso segue sob segredo de Justiça, com acompanhamento do Ministério Público do Espírito Santo (MPES).

Por ocasião do sepultamento dos corpos, um especialista chegou a afirmar o pastor George teria o direito de deixar a prisão para acompanhar a cerimônia. No entanto, ele não foi liberado e não participou do enterro das crianças, que aconteceu em Linhares.

Na declaração de óbito das crianças, a causa da morte foi apontada como indeterminada. De acordo com médicos especialistas neste tipo de ocorrência, apontar a causa de morte como indeterminada é comum e acontece na maioria das vezes quando a pessoa tem o corpo carbonizados. O fato ocorre porque há dificuldade do trabalho de necropsia para os médicos legistas identificarem a causa da morte.

Na última quinta-feira (17), a Polícia Civil do Estado (PCES) confirmou que trabalhava com a linha de investigação de homicídio na morte dos irmãos. A informação foi confirmada pelo delegado da 16ª Delegacia Regional de Linhares André Costa, que pediu prorrogação de 30 dias na prisão temporária de George Alves, pai e padrasto das crianças.

Dando continuidade às investigações, Rainy Butkovsky, de 31 anos, pai de Kauã, de 6 anos, foi chamado para depor na manhã desta segunda-feira (21), na Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra. Ele ficou por cerca de 30 minutos prestando depoimento. Por volta de 12h05, Rainy saiu da delegacia e não quis falar com a imprensa.

Um mês após a morte dos irmãos Joaquim e Kauã, populares se reuniram na em frente à residência onde, no dia 21 de Abril, os irmãos morreram. O encontro foi marcado por integrantes de grupos das redes sociais, como WhatsApp e Facebook.

Nesta quarta-feira (23), a informação é de que foi prorrogada por mais 30 dias a prisão temporária do pastor George Alves, pai de Joaquim e padrasto de Kauã, mortos em Linhares.

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