Morte irmãos carbonizados

Polícia

Exclusivo: Irmão de Georgeval fala pela 1ª vez sobre a morte de irmãos carbonizados em Linhares

O único familiar de Georgeval que mora no Espírito Santo conta detalhes sobre a personalidade do irmão e dá a sua opinião sobre as acusações que recaem sobre ele

André Vinicius Carneiro

Redação Folha Vitória

O irmão de Georgeval Alves, acusado da morte do filho Joaquim, de três anos, e do enteado Kauã, de seis anos, Cléber Alves Gonçalves, falou pela primeira vez e com exclusividade para o jornalismo da Rede Vitória. 

Em entrevista ao editor do Folha Vitória, André Vinícius Carneiro, o único familiar de Georgeval que mora no Espírito Santo, conta detalhes sobre a personalidade do irmão, explica a infância e o histórico familiar e faz revelações sobre a intimidade de Georgeval e Juliana, presos acusados do crime.

Confira:

- Histórico familiar

"Eu não tive uma relação com meu pai igual eu tenho com a minha filha. Meu pai sempre internado, minha avó cuidava de mim, que ela já tinha outro casamento. Meu avô morava na casa o meu pai e chegou a falecer. A gente foi sempre assim, criado desse jeito. Meu irmão foi criado pela minha tia. Eu com cinco anos e ele com sete fomos para o orfanato. Foi uma infância assim. Aí quando eu fui morar com meu pai eu tinha uns 12 anos. Meu irmão já estava lá já. Um morava na casa da avó e outro na tia, em bairros pertos. A gente se via mais em final de ano, em família. Quando eu fui morar com meu pai, meu irmão já estava lá e tinha as brigas. Meu pai às vezes ficava doente, pegava as coisas e ficava jogando. Quem me conhece e conhece o meu irmão sabe que o negócio foi tenso".

Infância em SP

"Enquanto a gente morou junto a gente ficava próximo. Até os 12 anos a gente morou separado. Dos meus 12 anos para frente até uns 18 anos, a gente morava com meu pai. A nossa infância era aquela de jogar bola, brincar, como toda criança e adolescente. Enquanto a gente estava morando junto éramos muito unidos. Era eu e ele, mas depois ele começou a trabalhar com cabelo e essas coisas assim. Eu também comecei a trabalhar e já fui morar sozinho. Já cheguei a morar com ele lá onde ele tinha um salão com a ex-esposa dele e ele sempre me ajudou. Enquanto ele pode, ele sempre me ajudou.

A gente ficou meses morando no orfanato, mas não lembro muito, pois eu era pequeno. Quando meu avô ficou sabendo ele foi nos buscar. Eu não sou muito de ficar falando com a minha família sobre isso. Eu nunca fiquei perguntando sobre a minha mãe, pois se os familiares dela não vieram me procurar é porque cada um tem um jeito e o meu é esse. Não chegamos a conhecer direito a nossa mãe. Meu pai era bom quando estava bom. Ele é um cara excelente, mas com o passar do tempo ele ficou internado e ele fazia uma coisas que não tinham sentido. Às vezes, quando eu era pequeno, eu tinha vergonha dele. Depois que eu cresci comecei a pensar diferente, que ele precisava de uma ajuda. Só que ele já teve algumas oportunidades e não quis. Dessa vez ele não melhorou mais. Aí você queria conversar com o seu pai e não pode. Você precisar dele e ter que contar com os amigos da rua. Mas meu pai era um cara bom. Infelizmente era o que acontecia na vida dele. Meu pai era viciado em crack e começou como todo adolescente e se aprofundou. Começou com maconha, depois cocaína. Esse é o ciclo".

Relação com o irmão

"Depois que a gente foi morar sozinho a gente se via menos, conversava por telefone. Ele viajava muito. Não conciliava o meu trabalho e o dele. Eu já era mais classe média baixa e meu irmão já era mais alta, andava em outros lugares. Até quando eu fiquei sabendo que ele tinha vindo embora, ele ligou para mim e falou que estava aqui e Linhares. Ele tinha conhecido a Juliana e estava com ela. Eles foram uma vez na minha casa para um fim de ano. Ele disse que estava em uma igreja aqui e estava pastoreando. Foi até quando eu estava com uns problemas de trabalho lá. Eu conversei com ele e ele falou que eu iria vir para cá, pois ia me ajudar e sem trabalho eu não ficaria. Minha mulher não quis vir. Aí juntou uns problemas, eu separando da minha mulher e liguei para ele. A casa do meu pai não dava para ir, pois meu pai já estava daquele jeito, minhas tias tem a vida delas e minha avó doente e já tinha passado a vida inteira com esses problemas. 

Avó que criou Georgeval sabe da prisão

"Ela está mal, mas ela é forte. Elas vieram aqui, viram o que estava acontecendo com meu irmão e ficaram transtornadas. Eu mesmo no dia que eu cheguei lá e vi. Muitas pessoas acusam, mas eu prefiro acreditar nas pessoas. Ela ficou mal, minhas tias ligaram e ninguém acreditava. Eles perguntam o que eu acho, mas eu sou meio neutro. Não gosto de ficar comentando. Às vezes eu converso com a minha esposa e ela tem uma mente e eu tenho outra. Eu procuro acreditar".

Casamento do Georgeval antes de Juliana e trabalho em São Paulo

"Ele era casado antes de conhecer a Juliana. Eu conheci ela e cheguei a morar uma vez com eles. Ela é uma pessoa muito boa também. O meu sobrinho eu vi quando ele era pequeno. Meu irmão morava lá, tinha comprado um apartamento e me pediu ajuda para arrumar um gesso e eu fui ajudar. Foi quando eu vi ele neném. Depois eu não vi mais. Ele está com 10 anos. Eu e o meu irmão conversamos de vez em quando, mas para se ver era difícil. Em São Paulo ele tinha um salão de estética. Quando começou tinha um, mas depois passou para dois. Eu não entrava muito nesses assuntos, mas sabia que era isso. Ele cortava cabelo e trabalhava para uma empresa. Ele viajava muito. Acho que em uma dessas viagens que ele encontrou a Juliana. Não sei o motivo da separação dele e não cheguei a perguntar para ele, mas acho que o principal é amor. Quando não tem mais amor já era".

Como conheceu Juliana

"Eu acho que foi em alguma dessas viagens dele. Não sei se ele veio aqui, pois ele dava palestras, cursos, essas coisas assim sobre estética. Ele conheceu ela (Juliana) e foi isso".

Vinda do Georgeval para Linhares

"Ele veio porque a família dela mora aqui. Então meu irmão quis vir. Ele abriu um salão aqui também. Quando ele chegou aqui ele estava na igreja, mas ainda cortava cabelo. Tinha um salão e disse que morava em cima. Ele começou a ir para igreja, que era em células. Tipo uma reunião na casa das pessoas e no final de semana ia todo mundo para a igreja. Ele começou a dar célula no salão e ficou. Começou a chegar mais gente. Só que eu não sei desse tempo que ele ficou na igreja quando ele foi consagrado pastor. Cada pessoa acredita de uma forma. Eu sei que para você ser pastor, é um negócio, porque a pessoa dá aula, é um trabalho. Mas no mundo espiritual o pastor é uma revelação da bíblia. Eu não sei quanto tempo que ele ficou, se ele estudou, fez algum curso, eu não perguntei. As pessoas ficam falando que não é pastor. Eu sempre ouvi as pregações dele e nunca vi nada de errado. Como o mundo está mudado, vai mudando tudo. Tem as pessoas que querem viver na época de Cristo e tem as religiões mais modernas. Meu irmão para mim sempre foi um cara bom, sempre ajudou as pessoas".

Convite do irmão para Cleber vir para o ES

"A gente acabou conversando por telefone e ele falou que estava aqui em Linhares. Ele disse que a família da Juliana mora aqui e estava com ela, pois iam casar e estavam com um salão. Eu liguei para ele, pois eu estava passando umas dificuldades, pois estava separando da minha esposa e só tinha os amigos. Eu não tinha para onde ir praticamente. Quando eu cheguei aqui eu fiquei na casa dele. Eu liguei para ele e falei que estava precisando, que eu estava desempregado e minha carteira foi bloqueada e eu não conseguia arrumar um trabalho registrado. Eu ficava fazendo bico Estava ruim para mim. Mente vazia é oficina do diabo. Estava cheio de problemas, não tinha com quem contar, aí liguei para o meu irmão e ele me ajudou mais uma vez. Ele mandou a passagem e falou que eu ia ficar com ele, ia para a igreja. Eu vim para cá e arrumei um trabalho rapidinho. Fui buscar minha filha primeiro, pois havia ficado três crianças com a minha esposa. Ficou pesado para ela. Minha filha veio comigo e depois fui buscar ela e a gente voltou. Minha filha gosta dele e nunca teve nada. Ele quis até me ajudar na criação da minha filha, pois eu não sou de ficar batendo e acho que isso não resolve. Tem que conversar e uma hora vai ouvir. Eu cheguei aqui em dezembro de 2016, na véspera de natal. Em maio eu arrumei um trabalho".

Relação dele com o Georgeval, Juliana e as crianças aqui no ES

"Era uma relação normal, como um pai para o filho. Ele levava os meninos no shopping, levava nos parques. Quando eu não estava a minha filha ia junto, pois eles tinham mais tempo de fazer umas coisas assim. O Kauã falava para mim que queria ser igual a ele quando crescer. Falava que queria ser pastor. Ele chamava meu irmão de pai. É uma coisa que eu não consigo acreditar até agora. Não entra na minha mente. É um irmão meu, meu sangue. Isso que aconteceu para mim eu nunca pensei que ia passar, e eu já passei por muita coisa na minha vida. É difícil e eu não consigo entender".

Mudança no comportamento

"Eu cheguei aqui e ele que me buscou lá na rodoviária. Foi ele e a Juliana com as crianças. Eu vi a mudança dele pelo fato de estar barbudão, mas o cabelo continuava o mesmo. Às vezes ele raspava a cabeça. É uma forma de sacrifício, não sei. Sei que independente do que seja, Deus sabe do seu coração. Só ele sabe o que aconteceu lá. Ele, meu irmão e as crianças sabem. Ele estava mudado assim, mas o jeito sempre foi o mesmo. Só a mente mais formava, pois você vai vivendo e pegando mais experiência. ele queria ser tipo um pai para mim. Ele me dava conselho, mesmo sendo apenas dois anos mais velho. A experiência de vida dele foi mais que a minha. Cada um teve um tipo de vida.

Sempre tinha muita gente na casa. Visita, almoço, café da manhã. É assim. A casa do meu irmão sempre teve gente. Eu vi a mudança dele nisso também. Ele convivia com muitas pessoas, mas era porque ele dava curso, aulas, mas na casa dele era ele e a mulher dele. Quando e cheguei tinha um monte de gente e até estranhei. Ele cuidava mais do próximo. Ele se dedicou muito, pois eu vi. Morei sete meses com ele. Ele saía de madrugada para fazer visita, oração na casa das pessoas.

"Ele era um bom pai. Uma vez eu fui falar com a minha filha e perdi a paciência e dei umas palmadas nela. Não gosto de ficar batendo com cinto, essas coisas, deixa marca. Meu irmão olhou e não falou nada. Depois ele veio conversar e falou para eu evitar ficar batendo nela. Disse para eu conversar com ela e explicar o que ela tinha feito.

Eu frequentei a igreja dele. Fiquei uns sete meses. Eu não ia com frequência, mas sempre estava lá. Eu estava um pouco afastado de Deus. Para mim a igreja é normal como todas as outras. Tem sua doutrina, seu jeito. Cada igreja é de uma forma". 

Morte da filha com poucos meses de vida

"Eu fiquei sabendo por telefone, que ele falou para mim. E eu fiquei sabendo que ele tinha tido uma filha. Ele me ligou para falar que ela nasceu e estava muito feliz. Passou um tempo ele me ligou falando que a menina tinha morrido, pois teve uma infecção. Tanto é que quando eu cheguei no dia que meu irmão já estava na rua ele estava desesperado. Ele começou a gritar que essa cidade é maldita, pois matou a filha dele. Eu fiquei com medo e pensei que ele poderia ficar louco. Ele falou que queria ir embora, pois perdeu os dois filhos. Queria entrar e tentou entrar, mas não deixaram. Eu não sei o que aconteceu, não sei como foi, pois eu não estava lá. Só fiquei sabendo na hora que os bombeiros já estavam lá".

Noite do crime

"Eu estava dormindo, o telefone tocou, eu atendi um rapaz da igreja falou que era para eu ir na casa do meu irmão, pois a casa tinha pegado fogo e as crianças haviam morrido. Eu tomei aquele baque. Fui de bicicleta correndo e quando eu cheguei lá meu irmão estava daquele jeito. Ele estava mal, chorando, gritando, querendo correr. Ele falava com Deus, depois ele falou que nunca ia abandonar Deus. Depois que a pessoa começa a ir para a igreja não é mais o natural, é o espiritual. Quem acredita, acredita, quem não acredita… Essa é a minha opinião. É outra visão. Ele se entregou mesmo para a igreja, mas a família sempre também. Depois do incêndio fiquei com ele até de manhã, fui com ele no médico, ele tomou umas inalações, e como tem diabetes tomou a insulina. Depois eu fui embora, pois tinha que ver meus filhos. Aí quem estava lá já era o pessoal da igreja. Eles que cuidaram mais dele. Eu não fiquei muito tempo com ele sozinho e não queria ficar falando muito. Nossa vida já não foi muito boa e acontece um negócio desse. Não perguntei muito, só o que ele falou na hora mesmo, que achava que era o ar condicionado".

Semana antes da prisão

"Nessa semana eu não conversei com ele, porque ele foi para o hotel eu já não consegui falar mais. Só por telefone para saber como ele estava. O apóstolo lá da igreja disse que não era bom ficar ligando muito sobre essas coisas, pois eles iam cuidar dele. Aí eu não tive muito contato mais. Estava trabalhando também. Eu não sabia nem qual hotel ele estava".

Dia da prisão

"Eu fiquei sabendo pela televisão. Depois eu liguei para o pessoal da igreja, tentei falar com a Juliana e aí fiquei sabendo assim. Já fiquei mal. Não entendi nada. Como a polícia fala que vai prender o cara por integridade física? Só louco para acreditar nisso. Já tinham que falar desde o começo. Falaram que ele estava mexendo na cena do crime. Que crime? Meu irmão não estava com uma mente de crime. Todo mundo só sabe julgar. Ele falou que ele não fez. Isso é o laudo que diz, mas ele falou que não fez.

O que eu fiquei sabendo foi que no dia eles estiveram na casa, não sei o dia. Acho que foi em seguida, pois os peritos, bombeiros estavam lá. Tinham alguma coisas do meu irmão no computador, pregações, coisas assim, a bíblia, livros. Ele não pensava que era uma cena de crime e sim um desastre. Eles perguntaram para o bombeiro se podia pegar alguma coisa da casa, algumas roupas, pois eles ficaram sem nada. Essa foi a intenção, de pegar o computador e algumas coisas da igreja. É a mais pura verdade. A vida continua e infelizmente eu não queria estar na pele do meu irmão.

Eu conversei com ela depois da prisão dele e parecia que eu já estava sentindo isso. Eu estava trabalhando. Minha vida é isso agora, eu trabalho pensando nisso, chego em casa pensando nisso. Já tenho meus filhos e meus problemas e agora isso. Trabalhei meio ruim pensando nas coisas e sentindo um negócio estranho. Tentei falar com ela para saber do meu irmão e não conseguia, pois o telefone estava na caixa postal. Depois fiquei sabendo na televisão que ela tinha sido presa. Para mim ela é uma boa mãe, não tenho o que falar dela não. Sempre cuidou das crianças".

Inocência do irmão

"Pelo o que eu conheço o meu irmão eu acho que ele não teria coragem de fazer isso com o filho dele. Eu não estou na mente de ninguém. Ele é um ser humano como qualquer outro, mas pelo o que eu conheço do meu irmão eu não consigo acreditar. Eu não posso falar que não foi, porque eu não sei. Eu não gosto de mentir. Se eu falar que ele não fez, que coloco a mão no fogo… cada um tem um modo de pensar. Meu modo de pensar é esse. Eu não acredito que ele tenha feito isso pelo fato de conhecer ele. Ele ajudava as pessoas, de ver o que ele fez por muita gente, pelos filhos e pela minha filha também. Mas eu não estava lá, não posso falar uma coisa que eu não sei. É complicado mesmo".

O que acha que aconteceu naquela noite?

"Eu acho que foi o que falaram, que pegou fogo no quarto, mas eu não sei por qual motivo. Eu não estou por dentro como a maioria está, pois não tenho muito tempo, mas eu fiquei sabendo que poderia ter sido o ar condicionado. Eu não consigo acreditar no que a polícia disse que ele fez. Meu irmão não teria capacidade de fazer isso. Não tem como, ele não demonstrava nada. Uma pessoa quando é agressiva, arrogante, eu não via isso nele. Ele tinha seus temperamentos, mas para fazer uma coisa dessa com os filhos, pelo que conheço meu irmão, ele não teria coragem de fazer isso".

Visitas ao irmão no pre´sídio

"Eu não consegui. Fui atrás na época que a Juliana estava aqui. Conversei com ela para me passar o número do advogado, tentei falar com ele. Pediram para eu escrever uma carta que o advogado mandava para ele. Eu escrevi. Não sei se ele recebeu a carta, não consegui falar com o advogado. Consegui falar com outra advogada. Eu mandei uma mensagem para ela e ela ligou para mim esses dias. Eu falei que eu precisava saber do meu irmão, como ele estava, o que estava acontecendo direito mesmo. Ela falou que ele estava muito magro, que não estava comendo direito, principalmente depois que soube da prisão da Juliana. Falou que está complicado para ele. Eu pretendo visitar, mas o problema é o meu trabalho. Eu vou ter que ir para Viana numa terça-feira para fazer uma carteirinha, depois ver o dia que é a visita. Eu tenho família e eu não tenho carro, não tenho acesso a essas coisas assim. Eu sei que meu contato com ele vai ser difícil, porque ver o meu irmão preso, em um lugar que ele está sendo julgado como se fosse um monstro. Eu sei como é que funciona. Se fizerem uma rebelião, já era. É só Deus mesmo na vida dele.

Ele pode ser vítima de ameaças dentro do presídio. Constantemente as pessoas devem falar, porque eu sei que é assim que funciona lá dentro. Eu mandei a carta, mas eu não sei se chegou. O advogado deve ter pegado. Eu esqueci até de perguntar para ela. Eu falei para a advogada que eu queria ver ele e como eu fazia, mas vai ser difícil. Se eu já tivesse a carteirinha… Eu vou ter que arrumar um carro, ver com alguém. Eu nem sei quanto tempo é daqui para Vitória".

Carta para o irmão

"Na carta eu lembro que perguntei o que estava acontecendo. Depois de tudo que a gente já passou nessa vida, olha o que aconteceu. Eu acredito em Deus, Deus é justo e vai fazer justiça. Tudo o que é para ser já está escrito, mas eu acredito em um milagre. Que possam ter errado, que possa ter alguma coisa errada nisso. Eu fico imaginando aparecer na televisão assim: ‘caso pastor Georgeval: a polícia falou que estava errado’. Eu acho que meu irmão é inocente, mas aí vem esses laudos e é complicado. Eu acredito que alguém entrou lá antes e fez alguma coisa ou já tinham premeditado isso, sabendo que meu irmão estava sozinho".

Juliana sabia de algo?

"Se havia agressões, se ele batia, porque a Juliana não falou? Falam que tem mulheres que tem medo de falar, mas pelo que eu conheço a Juliana, por pouco tempo, mas eu conhecia, eu acho que ela falaria. E outra, a casa vivia cheia de gente, sempre tinha pessoas dentro da casa, moravam pessoas lá. Por que ninguém falou? Está todo mundo sendo conivente com o meu irmão? Morava gente lá. Como as pessoas não viam isso? Quem está falando que meu irmão batia nas crianças? Os vizinhos? Tem alguma filmagem? Para você falar você tem que ter provas, e até as provas não dá para confiar, pois eu não confio no ser humano mais depois de tudo isso que aconteceu. Se plantaram tudo isso?"

Georgeval confessou ter sofrido abuso. Relatou algo?

"Para mim ele nunca contou. Nem para mim e nem para ninguém da família. Ele guardou isso para ele. Eu não sei se ele já conversou com algum psicólogo, não tive acesso a vida dele assim. Ele contou na igreja, quando tem um momento lá de contar a sua vida. Em alguns encontros ele dava testemunho. Se o seu pai não te ensina a conversar com a pessoa mais próxima de você não tem como".

Suposto abuso em piscina

"Meu irmão nunca morou em nenhuma casa com piscina. Eu falei com a minha esposa que eu quero ir lá conversar com essa diretora para ouvir dela, para ela falar para mim que o menino falou isso. Como eu já não estava morando mais lá, eu não tinha muito contato e não fiquei sabendo disso. Eu não lembro disso. Se aconteceu alguma coisa, a única piscina, o único dia que eu lembro, que eu fiquei sabendo, pois não estava com eles, foi de uma chácara que eles foram no retiro de carnaval. Se aconteceu, poderia ter sido nesse dia. Eu nem fui nesse dia, pois eu já estava afastado e a minha mulher não tem muita afinidade com ele. Se eles soubessem de algo acho que eles teriam tomado alguma providência, mas a professora já diz… e eu fico mais louco por não conseguir falar com meu irmão para saber o que aconteceu, para perguntar, pois eu não perguntei para não machucar mais do que já está machucado. Eu queria ver os dois para perguntar isso, pois a professora disse que eles falaram que era outro menino, que o Kauã estava inventando, ou não sei. Se fosse eu, na mesma hora que eu ficasse sabendo disso… eu não tenho dinheiro, fama, mas eu amo os meus filhos. Se um dia alguém me falar alguma coisa eu não deixo ir mais. Eu já falo pra eles não falarem com ninguém na rua, pois eu não consigo confiar em ninguém. Agora eu fico mais em cima dos meus filhos ainda".

Mensagem de Juliana para George: “Não estou preparada para dar errado”

"Eu não sei o que quis dizer. Não consigo nem entender. Tem que perguntar para ela. Dar errado o quê? Quem não conhece pensa outra coisa. Eu não sei o que ela pode ter dito com isso. Todo mundo está comentando sobre o caso. Eu não sou muito de sair é sempre de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Se alguém falou alguma coisa a respeito dele não foi para mim. Pelo menos estão me respeitando, pois eu não tenho relação com o que aconteceu. A minha opinião é igual a do ser humano. 

Visita ao sobrinho

"Eu fiquei sabendo que ele está com o pai da Ju. Mas eu não fui lá ainda. É tanta coisa. Eu tenho que ir lá, mas eu não sei como ele está. Eu espero que ele esteja bem. Já volta tudo da minha infância quando penso nele. Para mim é uma maldição na vida da minha família. Fico pensando que pode acontecer alguma coisa comigo e com meus filhos. Eu não quero ficar aqui mais não. Estou aqui pelos meus filhos e pelo meu trabalho. Se eu fosse sozinho já tinha ido embora"

O que faria se encontrasse o irmão hoje?

"Se eu conseguisse falar com ele agora eu ia dar um abraço e dar uma palavra de conforto. Tantas pessoas já perguntam. Eu ia dar um abraço e falar que Deus sabe de todas as coisas. Falar que eu o amo muito. Independente do que seja eu não posso condenar ninguém. A Justiça vai fazer a parte dela e se ele fez ou não fez, que Deus perdoe ele e perdoe toda a humanidade. Porque o mundo está perdido. Eu espero que isso acabe logo. Para mim está sendo um pesadelo. Minha filha pergunta sobre eles todo dia. Acho que vou ter que levar ela no psicólogo. Eu mesmo já fui umas três vezes no psicólogo. Espero que seja feita a justiça e nenhuma injustiça. Eu espero que tudo acabe bem".

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