Morte irmãos carbonizados

Polícia

"Não estou preparada para dar errado", disse Juliana a Georgeval

Na decisão judicial, o magistrado cita ainda contradição no depoimento de Juliana para a Polícia Civil

Juliana Sales foi presa na madrugada desta quarta-feira (20) no município de Teófilo Otoni, em Minas Gerais. | Foto: Reprodução / TV Leste 

Após perícia realizada por especialistas nos aparelhos celulares de Georgeval Alves e Juliana Sales, foi constatado que o casal trocou fotos dos irmãos Joaquim Alves Sales, de 03 anos, e Kauã Sales Butkovsky, de 06 anos, machucados. O relato está presente na decisão judicial que pediu a prisão preventiva de Juliana, expedida pelo juiz André Bijos Dadalto, da 1ª Vara Criminal de Linhares.

Em uma troca de mensagens entre o casal, após Georgeval ser intimado a prestar esclarecimentos para a Polícia Civil, Juliana disse: "não estou preparada para dar errado". 

"[...] a acusada Juliana diz em mensagem para o réu Georgeval, quando este era intimado a comparecer perante a autoridade policial para prestar declarações: “eu não estou preparada para dar errado”, bem como afirma em conversa com alguns pastores, demonstrando nervosismo, afirmando: “não sei se vou conseguir ser forte até o final"", afirma o juiz. 

Juliana Sales foi presa na madrugada desta quarta-feira (20) no município de Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Já Georgeval Alves está preso desde o dia 28 de abril no Centro de Detenção Provisória de Viana. 

A Polícia Civil concluiu que o pastor Georgeval Alves, marido de Juliana, matou o filho Joaquim, de 3 anos, e o enteado Kauã, de 6 anos. De acordo com as investigações, as crianças foram estupradas, agredidas e queimadas vivas.

Contradição no depoimento

Durante o depoimento, Juliana teria afirmado que Georgeval era "um bom pai". 

Ainda na decisão judicial, o juiz André Bijos Dadalto ressalta que os depoimentos prestados por Juliana para a Polícia Civil são contraditórios quando comparados com os laudos e relatórios feitos por especialistas durante perícia realizada nos aparelhos celulares do casal. 

Durante o depoimento, Juliana teria afirmado que Georgeval era "um bom pai e possuía uma relação harmoniosa" com os filhos. O relato dela, no entanto, segundo a decisão judicial, não coincide com as mensagens trocadas entre o casal, no qual há evidente demonstração de que Georgeval tinha um relacionamento conturbado e um desprezo pelas crianças. 

Ascensão religiosa

Ainda na decisão, o juiz relata que Georgeval Alves era líder da Igreja Ministério Batista Vida e Paz e buscava, em parceria com a esposa, uma ascensão religiosa e aumento expressivo na arrecadação de valores por fieis. Por essa finalidade, segundo a decisão do magistrado, Georgeval ceifou a vida dos menores Kauã e Joaquim para se utilizar da tragédia em seu favor.

Juliana tinha conhecimento dos abusos sexuais

A decisão judicial que determinou a prisão preventiva de Juliana Sales revelou que a mãe dos irmãos mortos em Linhares tinha conhecimento dos abusos sexuais sofridos pelos filhos. Em um documento de quatro páginas, no qual o programa Fala Manhã, apresentado pela jornalista Andressa Missio teve acesso, o juiz André Bijos Dadalto, da 1º Vara Criminal de Linhares, revela que Juliana não tomou qualquer medida para pôr fim aos abusos.

Em um trecho da decisão, diz o juiz, relata o juiz. "[...] É possível verificar que a denunciada Juliana tinha conhecimento dos supostos abusos sexuais sofridos pelos seus filhos e vítimas, tanto que em uma conversa entre os acusados [George e Juliana, a vítima Kauã reagiu emocionalmente após ter sofrido “maldades” por parte de dois “caras” na piscina, entretanto, eles [George e Juliana] não tomaram qualquer medida ou providência em relação ao ocorrido".

Ainda na decisão, o magistrado relata que a quebra do sigilo telefônico do casal revelou troca de fotos das crianças feridas. "Outro fato que causa estranheza [...] é que a acusada Juliana tinha conhecimento que os seus filhos, dentre eles as vítimas, eram submetidas à violência física e psicológica, como ela mesmo disse em suas declarações na esfera policial, o que pode ser visto em fotos enviadas entre os acusados das crianças machucadas".

Omissão

A promotora de Justiça Rachel Tannenbaum, da 2ª Promotoria Criminal de Linhares, esclareceu os motivos da prisão de Juliana Salles, mãe das crianças mortas carbonizadas em Linhares, durante uma coletiva realizada na tarde desta quarta-feira (20), no norte do Estado.

Segundo ela, após a conclusão do inquérito policial, o Ministério Público percebeu que haviam outros indícios de coautoria de Juliana e, a partir de então, fez o requerimento de novas diligências.

"No âmbito do Ministério Público, particularmente no laboratório de tecnologia, tivemos provas contundentes, tanto do Georgeval, quanto de Juliana. Colhemos provas de que ela tinha pleno conhecimento do desvio de caráter do próprio marido, da relação conturbada que ele tinha com a própria sexualidade e do menosprezo com o qual ele tratava, tanto os filhos, quanto o enteado. Mesmo sabendo disso, tendo pleno conhecimento dos riscos que as crianças estavam submetidas ao serem deixadas aos cuidados exclusivos de Georgeval, ela viaja para um encontro da igreja e deixa os dois sozinhos com ele", explica. 




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