Polícia

Justiça decide manter na cadeia PM que transmitiu a própria prisão

O soldado Nero Walker da Silva Soares é um dos policiais que respondem a inquérito aberto pela PM após o movimento grevista da corporação, em fevereiro

Soldado Nero Walker foi preso, em junho deste ano, em Cachoeiro de Itapemirim

A Justiça Militar decidiu manter preso o soldado da Polícia Militar Nero Walker da Silva Soares. Ele é um dos policiais que responde a inquérito da PM, aberto após o movimento grevista da corporação, em fevereiro deste ano, e está preso preventivamente desde junho.

A decisão sobre a manutenção da prisão ocorreu durante uma audiência de instrução da Vara de Auditoria Militar, realizada nesta segunda-feira (27). De acordo com um dos advogados de Nero, Tadeu Fraga, a decisão foi pautada no argumento de garantir a ordem interna da Polícia Militar. 

No entanto, para o defensor, essa justificativa não tem mais sustentação. "A paralisação já acabou e a Polícia Militar voltou ao normal. Não tem mais o que justifique essa prisão", ressaltou Fraga.

O advogado informou ainda que a defesa do soldado ingressará nesta quarta -feira (29) com um pedido de habeas corpus, alegando excesso de prazo na prisão de Nero. Segundo Fraga, a defesa espera obter uma resposta da Justiça dentro de dez dias após o pedido ser impetrado.

"A cada passo processual, a situação deve ser revista. A prisão preventiva serve para preservar o andamento do processo e, nesse tempo em que ele esteve preso, alguns requisitos para a prisão podem não existir mais. Portanto, a defesa sustenta que a prisão é inconveniente e inoportuna", frisou.

O presidente da Associação de Cabos e Soldados do Espírito Santo (ACS), sargento Renato Martins, também lamentou a manutenção da prisão de Nero Walker. Segundo o sargento, em situações em que o réu comete crimes mais graves a Justiça acaba permitindo que ele responda ao processo em liberdade.

"Na minha visão, não se justifica a prisão de alguém pela expressão de sua opinião. Às vezes o réu responde pela prática de homicídio e, ainda assim, permanece em liberdade. Então eu acho essa prisão totalmente desproporcional. Acho que a Justiça poderia, caso achasse conveniente, aplicar alguma medida cautelar, mas não mantê-lo preso", destacou Renato Martins. 

O presidente da ACS também questiona a Justiça por não considerar o fato de Nero ter passado por um tratamento médico psiquiátrico - o que fez com que ele se afastasse da Polícia Militar, em 2016. Inclusive, na época em que foi preso, o militar precisou ser encaminhado ao hospital psiquiátrico Adauto Botelho, em Cariacica, depois de apresentar sinais de descontrole emocional e agressividade.

"Será que é justificável prender alguém nessa situação? Consideramos essa prisão violadora de direitos humanos e, por isso, encaminhamos uma representação à Comissão Interamericana de Direitos Humanos", ressaltou o sargento Renato.

Prisão

Nero Walker foi preso na manhã do dia 16 de junho deste ano, em sua residência, localizada no bairro Amarelo, em Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado. Durante a ação da polícia, o soldado iniciou uma transmissão ao vivo em uma rede social, mostrando sua própria prisão. 

No vídeo, ele argumenta o motivo da prisão e questiona os mandados de prisão e busca e apreensão. Sem abrir o portão a casa, Nero Walker exige que os mandados sejam lidos por um policial antes que seja efetuada a prisão.


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