Polícia

Homicídios, lojas saqueadas e população refém do medo durante mais de 20 dias de greve da PM

Durante a paralisação dos policiais militares, em 24 horas houve 200 lojas saqueadas

“Se não tiver aumento, não tem policiamento”. “Não vamos sair, não vai sair viatura daqui”. Foram com essas reivindicações que o movimento teve início na frente dos Batalhões de Polícia da Grande Vitória. Mas não eram os policiais que se manifestavam, eram dezenas de mulheres, mães, esposas, famílias de policiais militares.

“Eles se arriscam para ajudar o povo e o povo não está nem aí”, disse uma manifestante em um dos dias do protesto. “Eles saem de manhã, deixam a família em casa e não sabem se vão voltar, porque a violência está imperando no meio da rua”, afirmou outra mulher durante a manifestação.

Com os portões bloqueados pelas mulheres, os policiais ficaram de braços cruzados do lado de dentro. “Não há nada fora da normalidade. Não há nenhuma ocorrência de furto que chegou ao conhecimento da secretaria ou do 190. Portanto, nós estamos trabalhando na normalidade”, destacou o secretário de Segurança Pública, André Garcia, no primeiro dia da greve.

Apenas no primeiro dia, 4 de fevereiro do ano passado, oito pessoas foram assassinadas, de acordo com o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol). “Quatro homens chegaram e colocaram o revolver na nossa cara, dentro do carro, e falaram para a gente sair, e nós saímos. Nós corremos para o meio da rua e não tinha ninguém para ajudar”, contou uma vítima de assalto.

Já no dia seguinte, 5 de fevereiro do ano passado, foram contabilizadas 17 mortes, também pelo Sindipol. Durante a cobertura, uma equipe da TV Vitória precisou se esconder, pois havia assaltantes correndo livremente pelas ruas do Centro Vitória, enquanto eles gravavam uma matéria.

Por conta da criminalidade, 200 lojas foram saqueadas em 24 horas, segundo a Federação Capixaba do Comercio (Fecomércio), e o prejuízo foi de R$ 2 milhões. Durante a paralisação, comerciantes fecharam as portas e funcionários ficaram dentro de casa.

Já no terceiro dia da greve, de acordo com o Sindipol, 42 pessoas foram assassinadas. Familiares estavam desesperados por conta da superlotação no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, que não tinha mais espaço para corpos. Segundo policiais civis, haviam corpos colocados no chão esperando uma vaga na geladeira e para conseguirem fazer o exame serem liberados.

As horas pareciam se arrastar diante de tanta violência. Naquele momento, o capixaba só podia contar com a ajuda da guarda municipal, mas eram poucos homens para dar conta de tudo.

“Isso é uma chantagem. E se nós capixabas, se nós brasileiros não enfrentarmos isso de frente, é hoje aqui e amanhã no resto do Brasil. Isso é chantagem, é chantagem aberta. Isso é a mesma coisa que sequestrar a liberdade do capixaba e cobrar resgate”, afirmou o governador do Estado, Paulo Hartung, na época.

Os três primeiros dias da greve foram os mais assustadores. O impasse teve como consequência mortes, extrema violência, prejuízo financeiro. Quando ficou claro que não havia mais controle, o Governo do Estado pediu ajuda ao Governo Federal. Foi aí que o exército e Força Nacional vieram para o Espírito Santo.

Devagar as pessoas voltaram a sair de casa. Aos poucos o comércio abriu, mas o impasse permaneceu por mais onze dias. Nesse período as mulheres se reuniram com o Governo e com o Ministério Público para tentarem chegar em um acordo. No meio disso, houve até pedido de desculpas.

Veja a linha do tempo da greve da Polícia Militar!

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