Política

Blefe ou moeda de barganha? Analistas avaliam pré-candidatura de Casagrande à Presidência

Cientistas políticos acreditam que chances de governador disputar governo federal em 2022 são remotas por causa da falta de expressão política do Estado

Luana Damasceno de Almeida

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução

Blefe ou uma moeda de barganha. Assim especialistas avaliam a possibilidade de o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), concorrer à Presidência da República nas eleições de 2022. E esse descrédito à candidatura do governador capixaba se dá principalmente por causa da falta de expressão ,do Estado em relação aos vizinho da Região Sudeste ou até mesmo a outros estados do País.

Aos olhos do governo federal, o Espírito Santo é considerado o patinho feio do Sudeste, com baixa projeção política e econômica. Talvez aí esteja um dos maiores desafios de Casagrande para viabilizar uma possível candidatura à Presidência da República.

O governador tem procurado exercer um papel de liderança, em conjunto com alguns gestores estaduais, no enfrentamento à pandemia. O fortalecimento de Casagrande vem na esteira da postura negacionista do governo federal em relação à pandemia, que exigiu dos governadores pulso firme, sobriedade e sensatez. “A voz da sensatez é o que mais falta hoje no cenário nacional. Quem conseguir espelhar essa voz tende a se destacar”, afirmou o mestre em Ciência Política, Deivison Souza Cruz.

Entretanto, a briga pela consolidação do nome enquanto pré-candidato à Presidência passa pelo reconhecimento nacional. A trajetória de Casagrande na política (já foi senador, deputado federal e governador), mais o capital político acumulado no período da pandemia, são insuficientes, acreditam especialistas, para projetá-lo para além do território capixaba. 

Nesse quesito, Casagrande perde em relação a alguns nomes, como João Dória (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), por exemplo. “Paulo Hartung já tentou ser candidato a Presidente e acredito que as dificuldades de Casagrande são as mesmas: em função de o Estado ser pequeno no âmbito da federação, é um desafio pra que os brasileiros conheçam sua gestão”, acredita Deivison. 

Outro desafio é Casagrande superar uma de suas características mais marcantes: priorizar a estabilidade em detrimento ao risco. Se aceitar ser pré-candidato à Presidência ele vai trocar o “mais ou menos” certo (reeleição para governador) pelo muito difícil, tendo pela frente uma jornada de desgaste que dificilmente enfrentaria se escolher o caminho da reeleição.

Frente ampla

No âmbito nacional está sendo discutida a possibilidade de organização de uma frente ampla, entre os partidos de esquerda, para derrotar Jair Bolsonaro. O PSB, partido de Casagrande, inclusive já defendeu essa posição. Sendo as eleições um negócio - e muito lucrativo – os especialistas apostam que o caminho, assim como em 2020, será o da fragmentação.

“Acho pouco provável (uma frente ampla). São muitos partidos no Brasil, e eles se utilizam dos pleitos eleitorais para se projetarem, serem mais conhecidos e consolidar seus candidatos em meio ao eleitorado. Dificilmente algum dos grandes partidos de esquerda, como PT, Psol, PSB e PDT deixarão de ter candidato no primeiro turno. A polarização em 2022 estará muito forte”, acredita Paulo Resende, doutor em Ciência Política.  

É nesse sentido que o nome de Casagrande pode se fortalecer entre as opções do PSB, caso o partido lance mesmo um nome. "Dentre os três governadores do PSB no País, Casagrande seria a aposta mais poderosa", acredita Paulo. 

Barganha

O convite, feito neste momento, pode se tratar de uma estratégia política do PSB para entrar de cabeça nas negociações pensando em 2022. Com o anúncio, o partido poderá analisar como os aliados e a sociedade reagem e qual é a musculatura política de Casagrande. Ou, pode ser apenas um blefe estratégico. 

Sendo uma real intenção do PSB ou apenas blefe, os próximos dois anos da gestão Casagrande não passarão ilesos. "Sempre que aparece qualquer coisa que o bolsonarismo identifique como ameaça, vem toneladas de fake news para destruir reputações. O governador precisaria de estratégia específica para esse tipo de ataque", acredita Deivisson. 

"Pode criar uma inimizade por parte dos deputados que sejam bolsonaristas e criar dificuldade na relação com o governo federal. Isso foi verificado em São Paulo, onde João Doria já iniciou sua campanha anti-bolsonaro. Lá tem várias obras federais congeladas", destacou o Paulo. 

Ponderado, por ora Casagrande buscou reforçar que a prioridade é dar continuidade à gestão do Estado e enfrentar a pandemia. Porém, em nenhum momento descartou a possibilidade. Cartas na mesa! 


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