Política

"A Política como ela é". Folha traz retrospectiva dos fatos marcantes do ano em 12 capítulos

Ano político de 2017 tem fatos elevados a máxima potência. Crise, prisões, denúncias, condenações, mortes, aprovação de reformas e gravações indevidas. Finalmente, acabou ... mas 2018 vem aí com eleição e mais polêmicas

Era uma vez, num país latino-americano de pouco mais de 200 milhões de habitantes....

Brigas, discussões, ameaças, prisões, mortes, amizades desfeitas e muitas, muitas outras polêmicas envolvendo o atual presidente, um ex-presidente, a primeira ex-presidenta e...(não acabou) diversos outros grandes nomes da política brasileira.

Para o bem ou para o mal, o ano político de 2017 teve grande parte dos seus acontecimentos elevados a um grau inimaginável, com roteiro que deixaria qualquer novela - ou série americana - com uma inveja absurda. (A grande diferença é que aqui o fim não vem acompanhado de letrinhas com os créditos).

Para relembrar tudo que aconteceu em território tupiniquim durante o ano, o Folha Vitória preparou uma retrospectiva para refrescar bem a sua memória. Pegue a pipoca e se prepare!

Janeiro - Tragédia e mudanças na Lava-Jato

"Caros amigos, acabamos de receber a confirmação de que o pai faleceu! Muito obrigado a todos pela força!", disse Francisco Zavascki.

É assim, diante de uma tragédia no dia 19 de janeiro, que começa a saga política de 2017. Relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Teori Zavascki morre vítima de um acidente aéreo, em Paraty, no Rio de Janeiro.

A morte de Zavascki causou mudanças significativas na investigação da Lava-Jato, que passou a ser feita por Edson Fachin, e na Suprema Corte, que viu o ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes ser escolhido para assumir a cadeira vaga.

Fevereiro - A Primeira das Reformas

O "Presidente das Reformas" conseguiu aprovar em fevereiro a primeira das três reformas estruturais que planejou para o seu governo, a Reforma do Ensino Médio, definida por ele mesmo como uma "ousadia responsável" do governo, opinião diferente da de especialistas (veja abaixo).

O texto aprovado divide o conteúdo do ensino médio em duas partes: 60% para disciplinas comuns a todos, a serem definidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e 40% para que o aluno aprofunde seus conhecimentos em uma área de interesse, entre as opções Linguagens, Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Ensino Profissional.

À época, uma polêmica tomou conta do tema: o pagamento de R$ 295 mil feito pelo Ministério da Educação (MEC) para youtubers defenderem o tema junto aos jovens.

Atenção, spoiler: Ainda em fevereiro, a ex-primeira-dama Marisa Letícia morre, aos 66 anos, após ficar 10 dias internada vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A ex-esposa seria taxada pelo marido e ex-presidente Lula (PT) como responsável pelo famoso triplex do Guarujá. (Sem afobação, leitores: trataremos disso mais abaixo). 

Março - A carne é fraca (e de papelão)

O terceiro mês do ano começa com a apresentação de um "personagem" importante e que será parte central do jogo político em quase todo ano: Joesley Batista.

Empresário e dono de um império conhecido como JBS (a maior empresa do mundo em processamento de proteína animal), Joesley viu sua empresa entrar na mira dos holofotes quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne Fraca, esquema liderado por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio que, de acordo com a PF, beneficiava grandes empresas do ramo alimentício.

Durante as investigações, foi descoberto que além de carne estragada, essas empresas utilizavam produtos cancerígenos, carne misturada com papelão e contaminada com bactérias.

Abril - A lista da discórdia

Sapato (Alexandre Passos), Italiano (Audifax Barcelos), Gripe (César Colnago), Canário (Esmael de Almeida), Magma (Guilherme Lacerda), Masculina (Iriny Lopes), Filho do Reino (Luciano Rezende), Filhote (Luiz Paulo Velloso Lucas), Novo (Max Filho), Baianinho (Paulo Hartung), Centroavante (Renato Casagrande), Duro (Ricardo Ferraço) e Boquinha (Sérgio Borges).

Assim, com codinomes, é que os políticos capixabas (e de todo o Brasil) foram apresentados os políticos capixabas na famosa "Lista do Fachin", que revelava políticos investigados na Operação Lava Jato. A lista, divulgada em delação pelo ex-funcionário da Odebrecht, Benedicto Júnior, deixou muita gente de cabelo em pé, mas as investigações ainda não levaram a nenhum veredicto.

Maio - Alô, tá gravando? ("Tem que manter isso aí, viu?")

"Queria te ouvir um pouco presidente, como é que o sr. tá nessa situação toda do Eduardo, não sei o quê."

É assim, com uma pergunta (quase) despretensiosa que começa o diálogo entre o presidente Michel Temer e Joesley Batista, gravado pelo empresário sem que o Temer tivesse conhecimento.

A divulgação do áudio foi feita pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 18 de maio e marcou um dos momentos de maior tensão do presidente durante todo o seu mandato. Uma possível renúncia do cargo chegou a ser cogitada, mas nunca se concretizou.

Na gravação, uma suposta compra do silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), chega a ser discutida. A gravação é utilizada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, para abrir um inquérito contra Temer, a pedido do procurador-geral da República na época, Rodrigo Janot.

"O que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora eu tô de bem com o Eduardo", diz Joesley.
"Tem que manter isso, viu?", responde Temer

Junho - Alívio com a chapa inocentada

Menos de um mês após a divulgação do polêmico áudio, o governo Temer passa por outra provação. Derrotado nas eleições presidenciais de 2014, o PSDB solicitou junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a cassação da chapa Dilma-Temer por  abuso de poder político e econômico.

Como Dilma já havia sofrido impeachment antes, caso a cassação fosse aceita, Temer precisaria deixar o cargo e novas eleições seriam realizadas no Brasil. Por 4 votos a 3, os ministros rejeitaram a cassação da chapa, dando mais uma sobrevida ao presidente

Votaram contra a cassação os ministros Gilmar Mendes, Admar Gonzaga, Tarcísio Vieira (ambos indicados por Temer para o TSE) e Napoleão Nunes Maia.

Outro fato marcante foi a prisão do ex-deputado e assessor do presidente Temer, Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Loures virou alvo da PF após receber uma mala com R$ 500 mil em propina que seria entregue a Michel Temer - dinheiro repassado por Joesley Batista.

Julho - Lula condenado e Reforma Trablhista

Nove anos e seis meses de prisão. Esse foi o período ao qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado pelo juiz Sérgio Moro pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, por causa do triplex no Guarujá. Poucos meses depois, em depoimento, Lula afirmou que a ex-esposa era a pessoa que cuidada da residência.

Segundo o despacho de Moro, "a prática do crime de corrupção envolveu a destinação de dezesseis milhões de reais a agentes políticos do Partido dos Trabalhadores, um valor muito expressivo. Além disso, o crime foi praticado em um esquema criminoso mais amplo no qual o pagamento de propinas havia se tornado rotina". Veja a íntegra da decisão, bastante elogiada pelo presidente do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz.

Além da condenação do ex-presidente, outro fato marcante do mês foi a aprovação da Reforma Trabalhista, que alterou mais de 100 pontos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), dentre eles o pagamento por hora, a permissão do trabalho home-office, a divisão das férias e demissão consensual.

Agosto - O Preço (R$) da Liberdade

Pouco mais de dois meses após ser denunciado pelo procurador-geral Rodrigo Janot pelo crime de corrupção passiva por conta da delação da JBS, o presidente Michel Temer foi absolvido pela Câmara dos Deputados

Em mais uma daquelas sessões circenses (em que todos profetizam palavras pela moral, bons costumes e melhoria da economia), os deputados decidiram que a denúncia só pode ser retomada depois que Temer deixar a Presidência.

 Os bastidores da votação, no entanto, trazem notícias não tão boas: em troca de votos e buscando se livrar da denúncia, Temer liberou mais de R$ 1 bilhão em emendas parlamentares para os deputados da base governista

Setembro - A mala do "Tesouro Perdido"

Um apartamento localizado em Salvador, ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, foi o palco de uma das apreensões mais bizarras da Polícia Federal no ano. Ao deflagrar uma das fases da Operação Cui Bonno?, policiais encontraram R$ 51 milhões em caixas e malas, em uma ação batizada como Tesouro Perdido.

Dias depois, Geddel foi preso por policiais em sua casa, em Brasília, onde cumpria prisão domiciliar.

Outra notícia importante no meio político foi a escolha de Raquel Dogde para assumir o cargo de procuradora-geral da República. Escolhida por Temer após eleição interna da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), ela e se tornou a primeira mulher a chegar à chefia do Ministério Público Federal (MPF). 

Outubro - Absolvição em dose dupla

Afastado de suas funções parlamentares desde maio, por conta das delações da JBS, Aécio Neves recuperou o mandato de senador depois de quase cinco meses. A saída do tucano tinha sido solicitada após Aécio ser gravado solicitando R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista.

Na conversa gravada, em maio, Joesley e Aécio negociavam de que forma seria feita a entrega do dinheiro. O empresário teria dito que se o senador recebesse pessoalmente o dinheiro, ele mesmo faria a entrega.

E, caso Aécio mandasse uma outra pessoa ao encontro, o empresário faria o mesmo. Foi quando o senador disse a seguinte frase:

"Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do c***.".

O outro absolvido do mês foi o presidente Michel Temer, que se livrou da segunda denúncia apresentada por Janot, dessa vez por crimes de obstrução da justiça e organização criminosa. A acusação de organização criminosa foi imputada também aos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.

Novembro - PF sob nova direção e (já?) corrida eleital

O mês de novembro teve menos polêmica e ficou marcado, principalmente, pela posse do novo diretor da Polícia Federal, Fernando Segovia. Ele assumiu o cargo que era ocupado por Leandro Daiello e apontou a luta contra a corrupção como uma das suas principais bandeiras.

A corrida presidencial começou a esquentar no fim deste ano. Apresentador de TV e um dos possíveis candidatos melhor colocado nas pesquisas eleitorais, Luciano Huck desistiu de concorrer ao cargo de presidente. O nome do global foi ventilado diversas vezes, inclusive com o governador Paulo Hartung como um dos principais cotados a vice, mas o próprio Huck tratou de esfriar as pretensões alheias.

"Seria uma insanidade fazer essa ruptura neste momento", afirmou o apresentador. "Hoje, vou seguir onde estou", complementou Luciano Huck

Se Luciano Huck desistiu, o mesmo não pode ser dito de Jair Messias Bolsonaro (PSC). Taxado como "Mito" por alguns capixabas em sua visita ao Espírito Santo, o deputado federal deixou claro que vai ser candidato. Em evento realizado em Vitória, junto com policiais, ele deixou claro que quer acabar com o Estatuto do Desarmamento e auxiliar na anistia aos policiais militares que participaram da Greve da Polícia, em fevereiro.

Dezembro - A visita de Lula e a renúncia do "abestado"

Uma semana após Bolsonaro pisar no Espírito Santo, foi a vez do ex-presidente Lula ser aclamado por uma outra parte dos capixabas. Discursando para uma Praça Costa Pereira lotada de apoiadores e militantes, Lula ressaltou a saída de Dilma Rousseff da presidência e lembrou todas as melhorias feitas pelo PT durante esses últimos anos de governo.

"Quase tudo que nós construímos de políticas públicas nesse país está sendo desmontado por um governo que não destruiu apenas a Dilma, mas rasgou também 54 milhões de títulos de eleitores que votaram na Dilma. Se a Dilma teve que sair, segundo a lógica deles, porque perdeu a governabilidade e estava mal nas pesquisas [de intenção de votos], e o Temer?", frisou Lula.

Ainda no Estado, a boa notícia veio para servidores do Estado, que receberam pela primeira vez neste mandato de Hartung um abono natalino, de R$ 1 mil. Além deles, foram beneficiados os servidores da Assembleia e dos Tribunais. 

Na Câmara Federal, o fato marcante para encerrar o ano foi a renuncia de Tiririca, que depois de dois mandatos como deputado federal e após só utilizar a tribuna para discursar em apenas três vezes, disse não querer continuar mais na vida política. Eleito duas vezes com mais de 1 milhão de votos, ele deixou o Congresso falando sério, dizendo o que o povo brasileiro está cansado de saber:

"A partir do exato momento que você entra, ou entra no esquema ou não faz. É uma mão lava a outra. Tu me faz um favor, que eu te faço um favor. Eu não trabalho dessa forma"

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