CORONAVÍRUS

Saúde

Remédio contra malária não tem eficácia comprovada contra Covid-19

'É um tanto prematuro afirmar que a hidroxicloroquina possa curar ou prevenir a doença', diz cientista

Foto: Divulgação

De acordo com o Instituto Questão de Ciência (IQC) não há comprovação de que a medicação hidroxicloroquina seja eficaz contra o novo coronavírus. "É um tanto prematuro afirmar que a hidroxicloroquina possa curar ou prevenir a doença que está paralisando o mundo", pondera a presidente do IQC, Natalia Pasternak.

A pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, enfatiza: "Até o momento, embora a droga seja promissora, não existe comprovação científica de que seja útil no combate ao novo coronavírus. Porém, criou o desabastecimento do produto, fazendo com que a Anvisa o transformasse em medicamento controlado nesta sexta-feira (20), por colocar em sério risco a saúde das pessoas que realmente precisam dele, como os portadores de doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatoide", alertou. 

Por isso, a cientista considera irresponsável a divulgação ampla de um estudo preliminar sobre o assunto, que levou as pessoas a comprarem compulsivamente o remédio, já esgotado em diversas farmácias. "O trabalho, divulgado por pesquisador francês no YouTube, é inconclusivo e está repleto de imperfeições que amplificam dramaticamente o risco de resultados falsos positivos", alerta a cientista.

O estudo francês é permeado de falhas e abrangeu número muito pequeno de participantes, apenas 26 no grupo tratamento, dos quais um morreu e cinco abandonaram o experimento. Além disso, faltam controles, randomização e "cegamento" do estudo (quando nem pacientes nem investigadores sabem qual grupo está recebendo o remédio e qual é o controle). "Do ponto de vista da lógica científica, não temos dados suficientes para tirar conclusões", ressalta Natalia, acrescentando que uma rede social não é o veículo adequado para comunicar resultados de testes clínicos, menos ainda em meio a uma pandemia.

"Utilizar drogas já aprovadas por agências de controle, como o FDA, dos Estados Unidos, e a Anvisa, para tratar outras doenças é uma estratégia útil, uma vez que o medicamento já passou por testes demorados e rigorosos para demonstrar que seu uso em seres humanos é seguro. No entanto, no caso atual, o fato de um medicamento ser capaz de matar o coronavírus no laboratório não garante que funcionará contra o vírus já instalado no corpo humano", explica Natalia.

"Sabonete e álcool gel destroem o vírus na superfície da pele, por exemplo, mas beber sabão líquido ou tomar cachaça não vai curar ninguém da Covid-19. Para avaliar se o medicamento funciona no interior do organismo humano, outros testes (em voluntários humanos) são necessários e demandam tempo, critério científico e seriedade, e devem ser feitos com o rigor científico necessário, que nos permita tirar conclusões e não gerar mais dúvidas", conclui a pesquisadora.

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