Saúde

O que dizem os especialistas sobre suspensão da AstraZeneca em gestantes do ES

A morte de uma grávida depois de receber o imunizante é considerado um evento isolado, segundo os estudiosos; especialistas afirmam que não há motivo para pânico e que vacina é segura e eficaz

Bianca Santana Vailant

Redação Folha Vitória
Foto: Breno Esaki/Agência Saúde DF

A suspensão da vacinação de grávidas com a AstraZeneca no Espírito Santo, segundo especialistas, não deve ser motivo para pânico. Eles alertam que a vacina é segura e deve continuar sendo aplicada nos demais grupos prioritários.

O doutor em epidemiologia Daniel Gomes explicou que o que motivou a recomendação de suspensão da vacina pela Anvisa foi a morte de uma grávida no Rio de Janeiro que, segundo o especialista, é considerado um evento isolado. 

"A gente precisa esperar as análises. Mas, do ponto de vista da segurança, tanto a AstraZeneca quanto as outras vacinas aprovadas mostraram-se seguras. Esta é uma medida cautelar importante que a Anvisa faz para qualquer vacina, não aconteceu só porque é a vacina contra a covid-19. Quando qualquer pessoa vacinada apresenta um resultado fora daquele estimado pelo fabricante, a vacina ou medicação é suspensa", afirmou. 

A pós-doutora em epidemiologia, Ethel Maciel, concorda e orienta as gestantes a voltarem para tomar a segunda dose. O intervalo entre a primeira e a segunda aplicação das doses é de três meses.

"É comum, quando há um evento adverso ter essa paralisação para investigar. Acho importante a gente acalmar as pessoas que tomaram a primeira dose. Se elas não tiveram nenhum sinal de sintomas, elas precisam retornar para a segunda dose", reforçou. 

Para o doutor em epidemiologia, há uma grande possibilidade da morte registrada não ter relação direta com a vacina. "Acredito que não vai haver nenhuma associação entre a vacina e o óbito dessa paciente. Muito possivelmente foi um caso isolado e sem conexão com a vacina."

Daniel Gomes pontuou os bons resultados do imunizante em todo o mundo. "Neste caso foi um evento adverso muito específico. A gente tem no mundo todo pessoas que foram vacinadas, grávidas e puérperas, e que não apresentaram nenhum tipo de efeito semelhante a esse. Nenhuma adversidade maior."

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Morte de grávida será investigada

A infectologista Rúbia Miossi explicou que não há como precisar qual o risco da vacina para as grávidas. "O ocorrido foi um óbito em gestante que desenvolveu trombose pós vacina. Como esse é um evento grave, e não houve estudos da vacina com gestantes, o correto é suspender o uso e investigar o caso para tentar definir a relação da vacina com o evento". 

Somente depois desta investigação será possível dizer se há ou não relação da vacina com a morte da grávida. Apesar da suspensão, os especialistas são unânimes em dizer que a vacina é segura, eficaz e importante para conter o avanço da covid-19.

"As vacinas não tiveram nenhum efeito adverso associado a nenhuma delas, evoluindo para óbito em nenhum grupo vacinado. Isso nos dá uma grande robustez de dizer que a vacina é segura para todos os grupos", reforçou o doutor em epidemiologia Daniel Gomes.

Vacina não passará por reanálise

O especialista explicou ainda como funciona o processo depois da suspensão de uma vacina. "Ela não vai passar por reformulações. É preciso analisar o que causou a morte para associá-la ou não ao óbito", disse.

Para esclarecer as dúvidas, uma série de exames precisa ser feita. "Nesse caso que está sendo reanalisado não é a vacina, é a causa mortis da paciente. Serão feitas uma série de exames patológicos para entender o que levou essa pessoa ao óbito", concluiu. 

Sem efeitos graves no ES

Em entrevista à Pan News Vitória, Luiz Carlos Reblin informou que a Sesa está fazendo o levantamento de quantas gestantes receberam o imunizante no Estado mas, até agora, nenhuma apresentou efeitos colaterais graves.

"Nenhuma grávida teve problemas após a vacinação. Há registro de dores no local da aplicação, algumas vezes febre, mas nada grave", salientou.

Já o secretário estadual de saúde, Nésio Fernandes, orientou que as grávidas que receberam a primeira dose da Astrazeneca, devem observar a ocorrência de eventos adversos pós-vacinais, e tendo qualquer sintoma, devem procurar um serviço de saúde. 

Vacinação para grávidas e puérperas é alterada no ES

Segundo o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, diante deste cenário de suspensão, junto ao incremento de doses da Pfizer/BioNTech na Campanha de Vacinação e o recebimento de mais de 23 mil doses nessa segunda-feira (10), o Governo decidiu pela organização da vacinação macrorregional das gestantes capixabas que ainda não foram vacinadas com imunizantes da Pfizer.

“Estamos organizando, junto aos municípios, como se dará a operacionalização e aplicação da vacina da Pfizer em gestantes que ainda não receberam imunizante”, informou.

A epidemiologista Ethel Maciel concorda com a alteração e diz que a Pfizer é o único laboratório que realizou estudos para aplicação do imunizante em gestantes. 

"A partir de agora, os municípios precisam fazer a escolha de administrar nas gestantes outro imunizante. A Pfizer nós falamos desde o início porque é a única que nós já temos esse estudo no grupo de gestantes e que não tinha registro de eventos adversos sérios", explicou.

Ethel ainda sugeriu uma forma de viabilizar o processo de vacinação. "A vacina está sendo administrada agora apenas em capitais, mas ela pode ficar até cinco dias em temperaturas maiores, então ela poderia ser encaminhada para os municípios que administrariam essas doses em um dia", sugeriu. 

Recomendação  da Anvisa

Nesta segunda-feira (10), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou a suspensão da vacinação da Covishield (Oxford/Fiocruz), conhecida como AstraZeneca, em gestantes no Brasil.

A decisão é resultado do monitoramento de eventos adversos feito de forma contínua das vacinas contra a Covid-19 em uso no País. A recomendação da Anvisa é que a indicação da bula da vacina AstraZeneca/Fiocruz seja seguida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI).

A Anvisa ressalta em nota que o uso das vacinas em situações não previstas na bula só deve ser feito mediante avaliação individual por um profissional médico que considere os riscos e benefícios da vacina para a paciente. A bula atual da vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca/Fiocruz não recomenda o uso da vacina sem orientação médica.


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