CORONAVÍRUS

Saúde

Pesquisa: 43% dos pacientes oncológicos sofrem impacto em seus tratamentos por causa do coronavírus

Quimioterapia é o tratamento mais citado como o mais alterado. Pacientes da região norte foram os mais impactados

Foto: Divulgação

O Instituto Oncoguia, organização de apoio ao paciente com câncer, realizou uma pesquisa online com pacientes oncológicos e seus familiares para saber quais os impactos da pandemia de coronavírus e do isolamento social em seus tratamentos e em suas vidas. Entre os 566 respondentes, 429 são pacientes em tratamento e destes, 43% relataram que seus tratamentos foram impactados neste período. 

O maior impacto foi sentido por pacientes da região Norte do país, onde 63% responderam sim à esta questão. Pacientes da região Sul foram os menos afetados, com 32% relatando algum problema.

"Este é um dado muito sério e relevante tendo em vista que a recomendação oficial é que o tratamento do câncer não pode parar. O ideal seria a personalização dessa fase, ou seja, que médico e paciente determinem juntos a melhor forma de continuar realizando o tratamento minimizando ao máximo os riscos em relação ao coronavírus.Para ajudar nesse processo, poderia-se abrir mão da telemedicina, recém liberada por conta da pandemia e totalmente aprovada pelos pacientes", comenta a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz.

Entre as justificativas dadas pelos pacientes para o cancelamento ou adiamento dos tratamentos, 43% disseram que foi uma decisão institucional (quando o cancelamento foi feito pelo hospital ou clínica) com os seguintes motivos fornecidos pelas instituições de saúde: risco de contágio, priorização de pacientes, redução de equipe e impacto na infraestrutura. Outros 12% disseram que esta foi uma decisão pessoal e apenas 3% declararam que esta foi uma decisão compartilhada, ou seja, feita pelo paciente e pelo médico conjuntamente.

Segundo o oncologista do Hospital Albert Einstein e diretor científico do Oncoguia, Rafael Kaliks, esta conversa com o médico é fundamental para que o tratamento oncológico não seja prejudicado. "Existem exames, consultas e até cirurgias que podem ser adiados por algum tempo, mas isso tem que ser uma decisão médica após a avaliação de cada caso individualmente. Mas não recomendamos que nenhum paciente interrompa o tratamento por conta própria pelo motivo que for. E quando o cancelamento é feito pelas próprias instituições, é importante buscar uma orientação do médico para não sofrer nenhum prejuízo", orienta Kaliks.

Dentre os pacientes em tratamento e que tiveram alguma alteração em seus tratamentos após o início da quarentena, 62 (34%) fazem quimioterapia, 58 (31%) hormonioterapia, 16 (9%) radioterapia, 16 (9%) terapia-alvo, 15 (8%) imunoterapia e 39 (21%) não soube informar qual tratamento é realizado.

Quando falamos nos diferentes sistemas de saúde, pacientes do SUS foram os mais afetados, com 60% relatando algum impacto no tratamento durante a quarentena. No setor privado, esse impacto chegou a 33%.

Pacientes com mais de 17 tipos de câncer responderam à pesquisa que contou com 566 respondentes, sendo 89% pacientes com câncer e 9% familiares de pacientes. Entre as mulheres que responderam ao levantamento, 34% têm de 20 a 39 anos, 54% de 40 a 59 e 13% mais de 60 anos. Dos homens, 12% estão na faixa etária entre 20 e 39 anos, 28% entre 40 e 59, e 60% com mais de 60 anos. A pesquisa ficou aberta de 29 de março a 10 de maio e foi divulgada nos canais digitais do Instituto Oncoguia.

Paciente com câncer é grupo de risco?

Outro ponto importante levantado pela pesquisa é que 70% dos respondentes disseram se considerar parte do grupo de risco para o coronavírus. Mas não é bem assim. "Dentre os pacientes oncológicos, fazem parte do grupo de risco aqueles com neoplasias hematológicas (como leucemias, linfomas e mieloma múltiplo), pacientes que passaram por transplante de medula óssea, quem está em tratamento com quimioterapia e pacientes oncológicos que também apresentam outros problemas de saúde, como diabetes e problemas cardíacos. Pacientes oncológicos que trataram um câncer e estão apenas em acompanhamento não são considerados imunodeprimidos e ex-pacientes oncológicos que estão sem evidência de câncer e que não estão em tratamento oncológico têm o risco aproximado de uma pessoa da mesma idade que não teve câncer", explica Rafael Kaliks.

Outros impactos da pandemia na vida do paciente com câncer

Além do impacto direto no tratamento, a pandemia de coronavírus afetou e muito outras áreas da vida de pacientes e não-pacientes. O impacto emocional foi o mais sentido pelos respondentes da pesquisa realizada pelo Instituto Oncoguia. A área emocional foi a primeira resposta de mais de 52% dos participantes. Em seguida, vem a área social, com 46%, seguido por saúde com 33% e pela área financeira, com 32%.

"A área emocional já é a mais afetada diante do câncer e curiosamente temos isso novamente diante da COVID-19. Os pacientes estão sim muito mais frágeis e inseguros diante dessa doença que além de tudo também impede o contato, as relações e os abraços tão necessários para o enfrentamento do câncer", finaliza Luciana Holtz.

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