Saúde

Projeto de lei obriga comunicação de complicações em procedimentos como peeling de fenol

Proposta já foi aprovada na Câmara dos Deputados e segue para apreciação do Senado; morte de homem após fazer peeling de fenol acende alerta sobre riscos

Agência Einstein

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Freepik @kroshka_nastya

*Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Um projeto de lei (PL 9602/2018) que torna obrigatória a comunicação das complicações em procedimentos estéticos está aguardando apreciação pelo Senado após ser aprovado na Câmara dos Deputados, em dezembro do ano passado. 

Segundo o texto, o objetivo é melhorar a qualidade da informação, facilitando o acesso aos dados para prevenir esses casos. A morte de um empresário de 27 anos em São Paulo, no último dia 3 de junho, após fazer um peeling de fenol, levantou um alerta sobre os riscos dessa técnica.

Um artigo publicado nos Anais Brasileiros de Dermatologia destaca que faltam publicações mostrando a real dimensão desses eventos adversos, que muitas vezes ficam restritos ao sigilo médico ou deixam de ser expostos por vergonha. 

Isso inclui desde problemas em procedimentos complexos, como cirurgias plásticas, mas também aqueles decorrentes de preenchimentos, alisamentos e até tatuagens e piercings, que podem ser desde intoxicações e infecções até casos de cegueira, por exemplo. 

Segundo os autores, é preciso saber o que está por trás dessas ocorrências, que afetam muitas vezes pessoas jovens e saudáveis, bem como produtos e intervenções de má qualidade que podem colocar a saúde da população em risco.

De acordo com as investigações acerca da morte do empresário Henrique Silva Chagas, ele faleceu cerca de duas horas após realizar o procedimento conhecido como peeling de fenol (saiba mais abaixo), na clínica de uma esteticista. 

Chagas teve ferimentos graves no rosto e na garganta, e a suspeita é de que ele sofreu uma reação alérgica, que teria desencadeado um choque anafilático. Segundo informações preliminares, ele não havia sido submetido a exames prévios.

Após o caso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) divulgou uma nota técnica esclarecendo que o peeling de fenol existe há muitos anos e, por ser um procedimento agressivo e invasivo, é essencial ser conduzido por médicos habilitados, preferencialmente em ambiente hospitalar.

Conforme a SBD, o profissional deve ser treinado e especializado, capaz de fazer uma avaliação médica completa do paciente, levando em conta seus fatores de risco e possíveis efeitos adversos. 

“Como em muitos procedimentos, vemos uma banalização e toda vez que isso ocorre se subestimam os riscos e aparecem casos de complicações”, observa a dermatologista Barbara Miguel, do Hospital Israelita Albert Einstein. 

“Infelizmente, as pessoas escolhem o profissional pelo número de seguidores, pelas fotos ‘antes e depois’ cujos resultados nem sempre representam a realidade. Da mesma forma que a internet trouxe acesso à informação, ela também faz tudo parecer muito fácil.”

Por isso, antes de qualquer intervenção clínica ou cosmiátrica, a SBD recomenda sempre procurar a orientação de um dermatologista, que pode avaliar adequadamente as condições e indicar a melhor abordagem. Procure também se certificar se o profissional é devidamente qualificado, se tem as credenciais necessárias e se está registrado em órgãos reguladores, se possui CRM e RQE (Registro de Qualificação de Especialista) para atuação na área.

“Procedimentos médicos sempre apresentam riscos e complicações potenciais, algumas vezes irreversíveis, que podem ser agravados quando não há uma avaliação completa da saúde e das expectativas do paciente”, frisa a dermatologista.

O que é o peeling de fenol?

Os peelings são procedimentos que promovem uma descamação da pele e podem ser superficiais, médios ou profundos. Eles são usados no tratamento de problemas como fotoenvelhecimento, rugas e cicatrizes. 

No caso do fenol, é um peeling profundo, extremamente agressivo, que remove totalmente a epiderme, a camada mais superficial, atingindo a derme. O objetivo é promover uma completa regeneração do tecido, eliminando rugas e marcas, e – quando bem indicado e conduzido - pode apresentar ótimos resultados.

Quais os riscos e cuidados na aplicação?

O fenol é um composto absorvido pela pele e cai na corrente sanguínea, de modo que pode ter efeito tóxico sobre o coração, os rins e o fígado. Também pode levar a arritmias graves e até parada cardíaca. 

Por isso, o procedimento é contraindicado em pacientes com problemas nesses órgãos. Além disso, ele não pode ser feito por quem tem pele morena e deve ser evitado em tabagistas. Antes de indicá-lo, é essencial fazer exames para uma avaliação completa do paciente e suas comorbidades.

O uso de fenol para tratar cicatrizes foi desenvolvido na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Mas, nos anos 1960, os peelings começaram a ser aperfeiçoados e se tornaram mais populares. Hoje, com modificações na fórmula, ele já não é mais um procedimento restrito ao ambiente hospitalar, e é possível realizá-lo em consultório. 

No entanto, deve haver monitoramento cardíaco, e a equipe médica deve estar preparada para lidar com complicações. “Não é um procedimento que qualquer um pode fazer”, frisa a especialista do Einstein. Para a SBD, o peeling de fenol deve ser feito “preferencialmente em ambiente hospitalar, com o paciente devidamente anestesiado e sob monitoramento cardíaco.”

Como é a recuperação e quais as possíveis complicações?

Normalmente, após o procedimento há dor, inchaço e formação de crostas espessas. A recuperação completa pode demorar até três meses. 

Ainda assim, há riscos de hiperpigmentação ou hipopigmentação, formação de cicatrizes, eritema persistente (vermelhidão) e reações alérgicas, além de infecções e até problemas cardíacos imprevisíveis. Segundo a SBD, há riscos independentemente da concentração, do método de aplicação e da profundidade atingida na pele.