Saúde

Morte de casal na Serra acende alerta para compra de produtos naturais. Veja como evitar riscos

Casal consumiu produto comprado pela internet como se fosse óleo de semente de abóbora, mas frasco continha solvente altamente tóxico

Foto: Reprodução TV Vitória

A morte de um casal na Serra, após o consumo de um produto comprado pela internet para emagrecer, acende um alerta para os cuidados ao se consumir substâncias compradas sem procedência confiável.

Rosineide Dorneles Mendes Oliveira e Willis Penna de Oliveira adquiriram em um site um produto conhecido como "óleo de semente de abóbora", mas, de acordo com a investigação da Polícia Civil, eles ingeriram um solvente altamente tóxico.

Foto: TV Vitória
Rosineide Dorneles Mendes Oliveira e Willis Penna de Oliveira

O casal acabou adoecendo. O filho desconfiou que a intoxicação pudesse ter sido provocada pelo consumo do produto e procurou a polícia. A mulher morreu em fevereiro e o companheiro um mês depois, no dia 16 de março.

De acordo com o médico legista Leandro Amorim, o casal ingeriu glicerina com dietilenoglicol. "Os dois corpos tinham insuficiência renal. A mulher também tinha um edema cerebral. Achamos estranho, coletamos material e mandamos para o laboratório de toxicologia", explicou.

LEIA TAMBÉM: Substância que matou casal na Serra é a mesma que provocou mortes por cerveja contaminada

A substância é a mesma que contaminou cervejas produzidas em uma fábrica de Minas Gerais, em 2019. Na época, um engenheiro capixaba foi internado em um hospital após consumir a cerveja Belorizontina, da cervejaria Backer.

A médica endocrinologista Flávia Tessarolo explica que o consumo de solventes pode trazer uma série de problemas para a saúde e, em casos mais graves, até levar à morte. 

"Este solvente provoca intoxicação. As reações do corpo dependem da substância ingerida. Eles podem provocar vários problemas como neurológicos, insuficiência renal e outros que podem levar à morte", disse. 

Receita médica é necessária

A orientação da médica e dos profissionais da saúde é para que as pessoas nunca consumam medicamentos sem receita médica. 

"As pessoas nunca devem comprar um medicamento, mesmo os ditos naturais, os fitoterápicos, sem uma recomendação médica. Ela precisa saber se realmente precisa daquilo e o melhor profissional para dizer isso é o médico", ressaltou. 

Evite comprar pela internet

A especialista ressalta, ainda, que quando for necessário comprar medicamentos, a população deve sempre dar preferência a farmácias conhecidas e evitar compras em sites onde a origem do produto é desconhecida.

"Quando for comprar, dê preferência para as farmácias. Evitar as compras pela internet. Às vezes é um site prometendo milhões de maravilhas em um produto, quando na realidade ele pode ser muito mal produzido, mal embalado, não ter verificação da vigilância sanitária e estar adequado a regulação", orientou.

Divulgação/Sesp
Divulgação/Sesp
Divulgação/Sesp
Divulgação/Sesp
Divulgação/Sesp

O casal que morreu na Serra havia comprado o óleo de semente de abóbora pela internet. A Polícia Civil esteve na empresa responsável pela venda do produto, que fica na cidade de São Bernardo do Campo, em São Paulo. O proprietário foi preso em flagrante.

De acordo com as investigações, o homem não era capacitado para este tipo de trabalho. Como o detido declarou que produzia outros produtos, a Polícia Civil acredita que houve uma confusão na etiquetagem do frasco.

O suspeito de 34 anos permanece preso de forma preventiva por estelionato, falsificação de produtos terapêuticos e crime contra a ordem econômica. Ele será indiciado também por duplo homicídio culposo.

Rótulo: alimento ou produto terapêutico?

A nutricionista e autoridade sanitária da Vigilância Sanitária do Estado do Espírito Santo, Aline Salvador Medeiros, explica que as pessoas precisam ficar atentas aos rótulos.

De acordo com a legislação, os alimentos não podem ser comercializados com alegações terapêuticas. Por isso, a atenção ao que diz o rótulo é fundamental, pois pode dar indícios de irregularidades. 

Pesquisa sobre a origem 

Além disso, a pessoa sempre deve se informar sobre a procedência do produto. "Na loja física já é complicado, na internet pior. O ideal é a pessoa pesquisar sobre aquele produto, pesquisar sobre a empresa e como é feito a produção", explicou. 

A maioria dos alimentos não precisa de registro junto à Anvisa, mas o fabricante deve estar licenciado pelo órgão de vigilância sanitária.

A Anvisa determina as normas para fabricação de alimentos no Brasil. No caso de suplementos alimentares, o órgão disponibiliza um painel para consulta dos constituintes autorizados (https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/alimentos/ingredientes/orientacoes-para-uso-da-ferramenta). 

"Um produto clandestino no mercado, ou seja, fabricado sem o devido licenciamento, pode inclusive conter substâncias proibidas para uso em alimentos, o que representa risco à saúde do consumidor",  explica Aline. 

Além disso, segundo a especialista, nas vistorias são verificadas as boas práticas de fabricação e o cumprimento de vários quesitos importantes para a segurança dos alimentos. 

"Se o fabricante não é acompanhado pelos órgãos de fiscalização, como foi ocaso deste ocorrido, o risco do produto provocar um dano à saúde do consumidor é muito maior", acrescenta. 

Desconfie de resultados e promessas fáceis 

Aline ressalta, ainda, que as pessoas devem se atentar aos produtos que afirmam que proporcionam a perda de peso, prevenção, tratamento ou cura de doenças. Esse tipo de alegação é proibida, e se o consumidor busca um tratamento para sua saúde, deve procurar um profissional.

Algumas alegações de benefício à saúde são permitidas para suplementos alimentares – no painel de consulta da Anvisa o consumidor pode encontrar também as alegações que são permitidas. 

"As pessoas precisam entender que uma boa saúde é fruto de práticas e cuidados, incluindo uma alimentação saudável. Temos sempre que desconfiar de um alimento que promete fazer melhorias na saúde", orientou a nutricionista.

Pontos moeda