Saúde

Uma em cada 4 crianças sofre de ansiedade ou depressão na pandemia

Uum alerta especial se direciona às crianças, que tem manifestado casos cada vez mais graves de depressão, ansiedade e a chamada “síndrome da gaiola” – medo de sair de casa ou de voltar à escola

Foto: Pixabay

Crianças e adolescentes são, cada vez mais, vítimas de doenças relacionadas à saúde mental e, muitas vezes, desencadeadas por um alto nível de estresse. Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que casos só aumentaram durante a pandemia.

Segundo a pediatra, Daniella Amorim de Souza Pelegrini, apesar do crescimento, transtornos relacionados à saúde mental não são uma exclusividade do momento de pandemia. Estima-se que, no Brasil, de 69 milhões de pessoas com 0 a 19 anos, existam 10,3 milhões de casos de transtornos.

Segundo a Pesquisa da USp, uma em cada quatro crianças apresentou ou ainda manifesta quadros de ansiedade ou depressão durante a pandemia em níveis clínicos, ou seja, com necessidade de intervenção de especialistas. 

O estudo monitorou a saúde mental de sete mil crianças e adolescentes de todo o país ao longo de alguns meses. A conclusão é de qua a pandemia gerou estresse, ansiedade, depressão e a chamada “síndrome da gaiola”, caracterizada pelo medo de sair de casa e até de voltar ao ensino presencial.

“A pandemia trouxe à tona uma série de conflitos, questões, restrições, representando novos desafios para a família, para a criança e para o adolescente. Os menores precisam da interação e do brincar como forma de se desenvolver socialmente. Os mais velhos começaram a ganhar asas, a fazer escolhas, a encontrar seu lugar no mundo e tiveram que dar passos no sentido contrário. Tudo isso é bastante desafiador”, afirma a psicopedagoga, Leticia Sena.

Momentos em família são importantes para desenvolvimento da criança

A psicopedagoga ressalta que que os momentos de brincadeira em família são oportunidades ímpares para que os adultos possam conhecer melhor a criança e suas emoções. 

“Crianças menores ainda não sabem diferenciar e nomear sentimentos. Isso também é aprendido. Os pequenos confundem raiva com tristeza ou ciúme, por exemplo. No brincar, é possível perceber e intervir para estimulá-los a falar sobre o que sentem e sobre aceitar as emoções, aprendendo a lidar e a reagir em cada situação”, considera.  

Não ir para escola representou ruptura de laços e do senso de pertencimento

Para a especialista, a instituição escolar que, com agilidade, trabalhou para manter o elo com a comunidade escolar, mesmo na distância física, saiu na frente. Orientadora pedagógica, Tatiani Svacina sabe disso. 

“Vivenciamos na pele e no dia a dia esse desafio e hoje podemos dizer que conseguimos preservar nossa essência de proximidade e acolhimento mesmo no período da pandemia. É claro que, tanto no período remoto quanto no retorno ao presencial, tivemos que agir de forma efetiva para manter esse vínculo”, afirma. ]

Para os especialistas, a escola não deve assumir o papel da família, mas pode ser uma aliada para identificar questões. 

“Nosso trabalho é essencialmente de parceria. Somos parceiros da família por entender o aluno como um indivíduo que tem suas vivências, potencialidades e dificuldades. Trabalhar a convivência em grupo, o desenvolvimento da autonomia e da autoestima e o diálogo são questões inerentes ao processo pedagógico e estão diretamente relacionadas ao bem-estar e a formação desse ser humano, bem como aos resultados acadêmicos obtidos”, completa Tatiani Svacina.

Veja quais são os cuidados necessários para evitar depressão, estresse e ansiedade na infância

A pediatra, Daniella Amorim de Souza Pelegrini, acredita que o caminho da prevenção ou do tratamento passa, impreterivelmente, pela atenção, pela escuta ativa, pela observação e pelo cuidado

De acordo com a especialista, em muitos casos, a saúde mental de crianças e adolescentes  é negligenciada. 

"Os casos são silenciosos e poucos recebem o acompanhamento e a atenção que merecem. Nesse sentido, o pediatra pode ser um aliado para orientar a necessidade de acompanhamento psiquiátrico e psicológico'', considera.

Entenda mais sobre o estresse infantil

O estresse, segundo especialistas, é algo presente na vida humana e, dentro de um limite, não é prejudicial à saúde mental e ao bem-estar do indivíduo. No caso do estresse infantil, é preciso estar atento se a criança se tornar muito apática ou passar a se irritar com facilidade.

Alterações de comportamento como dificuldade de concentração nas aulas online, ansiedade e choro excessivo são sinais a se observar, além da perda de interesse em temas e brincadeiras que antes traziam alegria e animação.

Além disso, o tédio também pode ser fonte de estresse. Estabelecer rotinas, mantendo os cuidados, é importante. Brincar em família é sempre uma boa oportunidade de interação, aproximação e conexão. 

Veja outras situações que podem gerar estresse:

- Mudanças na rotina, como mudança de cidade, de escola, separação de pais, problemas familiares;

- Morte de entes queridos;

- Competividade e cobrança excessiva, inclusive em atividades que teriam caráter lúdico como a prática de esportes na primeira infância;

- Nascimento de um irmão;

- Bullying e sensação de inadequação ou não pertencimento;

- Doenças e hospitalizações;

- Excesso de responsabilidade.

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