Saúde

Mieloma Múltiplo: câncer raro recebe novo tratamento multidisciplinar

Tratamento com diferentes profissionais exerce um papel fundamental para a convivência com a doença que ainda não tem cura

Foto: Reprodução
Acompanhamento médico continuado deve ser oferecido ao paciente e a família. 

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa média de vida do brasileiro é de 75 anos. Com isso, a atenção à saúde do idoso é um assunto cada vez mais frequente. E, em caso de pessoas acometidas por enfermidades mais graves, como o mieloma múltiplo, a atenção a alguns detalhes deve ser um pouco mais cautelosa.    

Trata-se de um câncer raro que afeta diretamente a medula óssea e é causado pelo crescimento descontrolado das células de defesa do organismo, chamadas de plasmócitos. Sua incidência é ligeiramente maior em homens entre 60 e 65 anos e os sinais e sintomas podem ser confundidos com alterações relacionadas ao envelhecimento, tais como fadiga, dores ósseas, anemia e possíveis alterações renais.

“Os sinais mais precoces, em geral, são anemia, que pode ser identificada por meio do hemograma; alteração de função renal, evidenciados na elevação de exames como ureia e creatinina; além das dores ósseas, principalmente na coluna”, afirma o hematologista, Walter Braga, responsável pelo Ambulatório de Mieloma Múltiplo da Universidade Federal de São Paulo. No Brasil, não existem dados de prevalência da doença, mas, em 2015, nos Estados Unidos, foram diagnosticados 24 mil novos casos. 

Toda a rotina de quem convive com a doença pode ser impactada. Atividades diárias como calçar os sapatos ou tomar banho, se tornam mais complicadas de ser realizadas para alguns pacientes. As limitações impostas pela doença reduzem a autonomia e independência, e algumas vezes podem exigir o suporte de um cuidador. Com isso, no processo de convivência, o entendimento e suporte da família são fatores determinantes.

Um olhar multidisciplinar para o mieloma múltiplo

Além do apoio da família, estabelecer a multidisciplinaridade com psicólogo, nutricionista, entre outros profissionais da saúde, corrobora para um tratamento bem-sucedido. “Ainda que o paciente faça o acompanhamento médico e tenha sua logística de tratamento bem estabelecida, a presença de outros profissionais da saúde garante uma melhora em sua qualidade de vida e condições gerais”, complementa o hematologista. 

O aspecto psicossocial é um ponto de atenção. Receber o diagnóstico de um câncer afeta não somente o paciente, mas todos que convivem com ele. Além do impacto físico da doença também existe o emocional. “A partir do diagnóstico, o paciente começa a apresentar sentimentos como medo da morte, de sentir dor, de ficar dependente da família, entre outros”, explica a psicóloga, Maria da Glória. 

A especialista também pontua que o impacto na família pode variar de acordo com sua estrutura. “Outro ponto importante é que os familiares vão passar por mudanças de papéis, além de vivenciarem novas preocupações, como medo da perda, e precisarem se organizar com tarefas adicionais. Nesse processo, a família também deve ser acolhida e apoiada. Ela é uma grande aliada no sucesso do tratamento para que o paciente possa conviver bem com a doença e reassumir funções na sociedade”, conclui a psicologa. 

A alimentação também requer cuidados especiais, uma vez que influencia na evolução do tratamento. “Uma dieta saudável aliada à prática de exercícios físicos com acompanhamento de um profissional é de extrema importância para esse paciente e trará impactos em diversos aspectos”, afirma, Andrea Pereira, Médica Nutróloga do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein e da Obesidade e Cirurgia Bariátrica da UNIFESP.

A especialista explica que também é necessário avaliar as particularidades dos idosos, que são mais acometidos por essa patologia. “A partir dos 30 anos, os indivíduos começam a perder massa muscular e a cada década isso piora. Uma alimentação saudável também acarreta em uma melhor resposta ao tratamento e maior qualidade de vida”, conclui a especialista.

Outro profissional que exerce grande impacto na rotina do paciente é o cuidador oncológico que acompanha de perto a trajetória de tratamento, juntamente com o médico. São eles que garantem conforto e tranquilidade no dia-a-dia, oferecendo uma possibilidade de tornar essa jornada mais leve ao paciente. Além do manejo correto dos medicamentos indicados, colaborando diretamente na adesão ao tratamento.

“O cuidador vai auxiliar a equipe médica com informações essenciais, como quais os medicamentos já são usados pelo paciente, o que permite ao profissional avaliar se isso vai interferir no tratamento. Além disso, o cuidador também poderá contribuir com outras informações. Caso haja alterações da função renal (como insuficiência renal)  não é recomendado que se faça exames com contraste, por exemplo”, explica Rosângela dos Santos, Coordenadora de Enfermagem do Serviço de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês. 

Por fim, os impactos do diagnóstico, tratamento e convívio com um câncer são imensos, atingindo a vida do paciente em vários âmbitos. A humanização no tratamento e o trabalho em diferentes frentes são tão importantes para garantir um quadro positivo.  

Pontos moeda